Mercados em Foco edição 24/09/2024

No “Mercados em Foco” de hoje, trazemos um resumo das últimas notícias e insights que impactaram os mercados globais e brasileiro. Na última semana de setembro, o cenário econômico no Brasil trouxe um clima de cautela e mau humor nos mercados. A revisão fiscal mais recente, que reduziu o congelamento do orçamento deste ano para R$ 3,3 bilhões, gerou desconforto entre investidores. O mercado percebeu essa flexibilização nos gastos públicos como um sinal de deterioração fiscal, especialmente em um momento onde se esperava o contrário – maior contenção de despesas. As receitas do governo ainda parecem insuficientes para cobrir as demandas, o que adiciona incertezas à capacidade do Brasil de cumprir a meta de déficit zero. Mercados em Foco edição 24/09/2024.

A resposta do mercado foi imediata. O real continuou seu ciclo de desvalorização frente ao dólar, refletindo a crescente desconfiança sobre a capacidade do governo de entregar um equilíbrio fiscal sustentável. As expectativas negativas se intensificaram com a piora nos indicadores do boletim Focus, que apresenta projeções para inflação, PIB e taxa de juros. No ponto mais crítico do dia, o real chegou a atingir R$ 5,60, tornando-se uma das moedas de pior desempenho entre as economias emergentes.

Intervenção de Haddad em Nova Iorque Alivia Tensões

No entanto, houve um alívio no final do dia. Em um evento em Nova Iorque, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apresentou a evolução fiscal do Brasil a agências de classificação de risco. Ele indicou que o Brasil poderá subir um nível na escala de ratings até o final de 2025, o que gerou certo otimismo entre os investidores. Embora as preocupações fiscais não tenham desaparecido, o discurso de Haddad aliviou parte das perdas do mercado. O real fechou o dia em R$ 5,53, com uma leve desvalorização, e o Ibovespa seguiu um padrão similar de recuperação.

A bolsa brasileira, puxada por grandes empresas como Petrobras e Vale, que se beneficiam da alta nas commodities, fechou em queda de 0,4%. O aumento recente no preço das commodities, impulsionado pela expectativa de juros menores nos Estados Unidos, influenciou diretamente o movimento dessas gigantes. A relação entre os preços de commodities e as taxas de juros americanas tem sido notável, uma vez que taxas menores tendem a desvalorizar o dólar, beneficiando a valorização de ativos reais como petróleo e minério de ferro.

A Influência do Mercado Americano e a Volatilidade dos Juros

Nos Estados Unidos, o dia foi marcado por uma sessão volátil nas bolsas de valores, com o Dow Jones e o S&P 500 registrando novos recordes de fechamento. Embora o dia tenha apresentado uma agenda econômica mais tranquila, o foco do mercado americano se voltou para os comentários de membros do Federal Reserve, popularmente conhecidos como “fedboys”.

Entre eles, destacaram-se as falas de Rafael Bosch, presidente do Fed de Atlanta, e Austan Goolsbee, presidente do Fed de Chicago. Ambos reforçaram a visão de que o processo desinflacionário dos EUA está progredindo, o que sugere a necessidade de cortes nas taxas de juros para proteger a economia e o mercado de trabalho americano. Esses comentários contribuíram para a queda dos juros de curto prazo, ao passo que os juros de longo prazo fecharam o dia em alta.

A inversão da curva de juros nos prazos mais longos, que fechou em alta, é um reflexo da incerteza econômica e geopolítica global. A combinação de expectativas por juros menores nos Estados Unidos com tensões no Oriente Médio, onde o conflito continua sem uma resolução à vista, tem impulsionado a busca por ativos seguros. O ouro, tradicional refúgio em tempos de instabilidade, continua se valorizando, quebrando recordes de preços, especialmente com o suporte das compras de bancos centrais ao redor do mundo.

A Influência dos Bancos Centrais e a Proteção no Ouro

A incerteza geopolítica e econômica global tem contribuído para o aumento na procura por ativos mais seguros, como o ouro. Em tempos de turbulência, o metal precioso oferece uma proteção confiável contra os riscos de mercado. Esse movimento foi ainda mais reforçado por compras sustentadas dos bancos centrais, que veem o ouro como um ativo essencial para a diversificação de reservas e a proteção contra volatilidades do mercado.

Enquanto isso, o mercado segue de olho em indicadores econômicos globais. Na semana que se encerra, a agenda de eventos foi relativamente tranquila, exceto pela expectativa em torno do deflator do PCI, principal indicador de inflação dos EUA. Na segunda-feira, foram divulgadas as prévias dos índices de gerentes de compras (PMIs) de setembro. Os resultados foram mistos: o PMI composto e o de serviços vieram ligeiramente acima das expectativas, enquanto o PMI industrial decepcionou, ficando abaixo do esperado.

Monitoramento do Mercado e Expectativas sobre a Política Monetária do Brasil

O monitoramento de dados como o PMI é fundamental, pois o mercado está cada vez mais sensível às flutuações da atividade econômica global. Embora os dados desta semana não tenham tido um impacto significativo no preço dos ativos, eles ajudam a moldar as expectativas futuras.

No Brasil, o destaque do dia foi a publicação da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que elevou a taxa Selic em 0,25 pontos percentuais, levando-a para 10,75% ao ano. A ata traz mais detalhes sobre a decisão do Banco Central, que na semana passada divulgou um comunicado relativamente sucinto. O mercado estava atento à possibilidade de novas pistas sobre os próximos passos da autoridade monetária.

Considerações

A economia brasileira continua a enfrentar desafios significativos no curto prazo. A desvalorização do real, combinada com a piora nas expectativas fiscais e uma postura cautelosa dos investidores, traz um cenário de incerteza. As intervenções do governo, como a apresentada por Haddad em Nova Iorque, podem ajudar a restaurar alguma confiança, mas a trajetória fiscal do Brasil precisa ser monitorada de perto.

Além disso, o impacto da política monetária global, especialmente a dos EUA, continua a desempenhar um papel central nos mercados emergentes. A expectativa de cortes nas taxas de juros nos EUA poderia trazer alívio para economias como a brasileira. Existe também o risco de que a instabilidade geopolítica, somada às fragilidades internas, mantenha a volatilidade elevada. Olhando para frente, os investidores devem manter um foco constante nos indicadores econômicos, tanto locais quanto globais, e nas sinalizações de política monetária.

Encerramos o Mercados em Foco edição 24/09/2024. Desejando a todos um bom dia e bons negócios.

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