Mercados em Foco edição 23/08/2024

No “Mercados em Foco” de hoje, trazemos um resumo das últimas notícias e insights que impactaram os mercados globais e brasileiro. Os recentes dados econômicos dos Estados Unidos revelaram uma economia que continua mais resiliente do que o esperado, apesar das flutuações em alguns indicadores. As prévias dos PMI de agosto, tanto de serviços quanto do composto, vieram praticamente iguais aos números de julho, mas consideravelmente acima das expectativas do mercado. Esse cenário reflete uma força subjacente na economia americana, especialmente em setores cruciais como serviços. No entanto, a manufatura apresentou um desempenho bem abaixo do esperado, atingindo a leitura mais baixa do ano. Mercados em Foco edição 23/08/2024.

Análise dos PMI: O Contraste Entre Serviços e Manufatura

Os PMI de serviços e composto de agosto superaram as expectativas, mantendo-se estáveis em relação a julho. Esses números, embora não surpreendentes, mostram uma economia que se mantém robusta. Por outro lado, o setor manufatureiro, que se esperava estabilidade, surpreendeu negativamente. A leitura mais baixa do ano sugere desafios contínuos para a indústria americana, refletindo talvez a desaceleração da demanda global e os efeitos persistentes de disrupções na cadeia de suprimentos.

Um detalhe importante nos PMI é a queda no índice de emprego, que passou de 51,6 para 48,9, indicando uma contração no mercado de trabalho do setor manufatureiro. No entanto, os novos pedidos se mantiveram praticamente inalterados em 52,3, sugerindo que a demanda ainda está presente, mas com capacidade reduzida para novas contratações.

Mercado de Trabalho: Sinais de Resiliência

O mercado de trabalho nos EUA também tem mostrado sinais de resiliência. Os pedidos de auxílio-desemprego subiram para 232 mil na semana passada, em linha com as expectativas. Esse aumento, após algumas semanas de surpresas positivas, não é motivo de alarme, mas sim um indicativo de que o mercado está se ajustando a novos níveis de demanda e oferta de trabalho. O fato de os pedidos estarem em linha com as expectativas reforça a ideia de uma economia em transição, mas ainda resiliente.

Modelagem do PIB: PMI vs ISM

Utilizando uma regressão simples para modelar o PIB dos EUA, os PMI têm se mostrado bem mais precisos que o ISM, que tende a ser mais pessimista. Essa diferença na precisão sugere que os PMI capturam melhor a dinâmica atual da economia, especialmente em tempos de incerteza. O ISM, por sua vez, pode estar refletindo um viés mais conservador, que embora útil em alguns contextos, pode não representar com exatidão a realidade econômica em momentos de resiliência.

Comentários de Susan Collins e a Trajetória dos Juros

Susan Collins, presidente do Fed de Boston, expressou preocupações com o potencial de um viés mais fraco na economia se tornar autorealizável, aumentando assim os riscos de recessão. No entanto, ela também destacou que os Estados Unidos estão em uma posição sólida, com a inflação recuando e o mercado de trabalho esfriando sem sinais de alerta. Collins mencionou que, quando os cortes de juros ocorrerem, eles serão graduais, uma abordagem que parece prudente dado o contexto atual.

Impactos nos Mercados: Reação Mista

Os números recentes não alteram significativamente a narrativa econômica, mas ajudaram a aliviar um pouco o alerta vermelho, movimentando os mercados. Nos Estados Unidos, os títulos do Tesouro subiram e o dólar se valorizou. Em contraste, as bolsas, que vinham em uma sequência positiva, tiveram um dia de aversão ao risco e registraram quedas. Esse movimento reflete a incerteza dos investidores sobre o futuro próximo, especialmente em relação à política monetária e ao desempenho econômico global.

Impacto no Brasil: Dia Difícil para os Mercados

O cenário externo pesou no Brasil. O Ibovespa seguiu o movimento de realização de lucros, interrompendo uma sequência de três recordes consecutivos de fechamento. Além disso, as falas do diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, também influenciaram o mercado. Galípolo manteve um tom duro, afirmando que o BC está disposto a subir juros se necessário. No entanto, ao tentar deixar todas as opções em aberto, o mercado interpretou essa postura como menos dura do que o esperado.

A curva de juros futura no Brasil ganhou inclinação, mas o real se desvalorizou quase 2% frente ao dólar, fechando em 5,59. Esse movimento reflete a incerteza sobre a trajetória futura da política monetária e a percepção de riscos elevados no cenário econômico global.

Arrecadação Federal: Um Lado Positivo

Apesar das dificuldades no mercado financeiro, os dados de arrecadação no Brasil trouxeram boas notícias. A Receita Federal arrecadou pouco mais de R$ 231 bilhões em julho, o maior valor para o mês em toda a série histórica. Esse desempenho foi impulsionado pelo quadro favorável da atividade econômica, que tem mostrado resiliência mesmo em um ambiente de incerteza global.

Essa tendência de forte arrecadação deve continuar nos próximos meses, embora com menor intensidade. A boa arrecadação é crucial para o equilíbrio das contas públicas, especialmente em um momento em que o principal desafio do Brasil continua sendo de natureza fiscal. No entanto, apesar dos bons números, um esforço maior para cortar gastos será necessário para garantir a sustentabilidade fiscal a longo prazo.

Zona do Euro: Recuperação Gradual e Riscos à Vista

Na zona do euro, os PMI prévios de agosto mostraram uma recuperação importante da atividade econômica. Os setores de serviços e composto apresentaram crescimento, enquanto o industrial caiu um pouco, mas ainda superou as expectativas. A ata da última reunião do Banco Central Europeu (BCE) veio sem grandes surpresas, destacando que a trajetória de redução dos juros será gradual, cautelosa e dependente dos dados econômicos.

No entanto, os riscos de reaceleração da inflação e a força da economia europeia continuam preocupando os formuladores de política monetária. Esses fatores indicam que o BCE deve permanecer vigilante e pronto para ajustar sua política conforme necessário.

Olhos em Jackson Hole: Expectativas para o Discurso de Jerome Powell

O destaque do dia é o aguardado discurso de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, em Jackson Hole. Todos os olhos estão voltados para como Powell vai se posicionar em relação à dinâmica econômica recente, especialmente após os dados resilientes de PMI e o comportamento do mercado de trabalho. As expectativas são de que Powell reforce a mensagem de cautela e gradualismo, destacando que o Fed está preparado para ajustar os juros conforme necessário, mas sem precipitações.

Considerações

Os dados econômicos recentes pintam um quadro de resiliência na economia dos EUA, mesmo diante de desafios significativos no setor manufatureiro e incertezas no mercado de trabalho. Esse cenário, combinado com a postura cautelosa dos formuladores de política monetária, tanto nos EUA quanto na Europa, indica que a trajetória futura da economia global ainda é incerta. No Brasil, a resposta do mercado foi mista, com quedas na bolsa e na moeda, mas com sinais positivos na arrecadação fiscal. As próximas semanas serão cruciais para entender como esses diferentes elementos vão se alinhar e influenciar a economia global.

Encerramos o Mercados em Foco edição 23/08/2024. Desejando a todos um bom dia e bons negócios.

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