No “Mercados em Foco” de hoje, trazemos um resumo das últimas notícias e insights que impactaram os mercados globais e brasileiro. Finalmente chegou o dia da divulgação do relatório bimestral de avaliação de receitas e despesas do governo central. Ontem, o Ministério do Orçamento e Planejamento confirmou e detalhou o bloqueio de R$ 11,2 bilhões e o contingenciamento de R$ 3,8 bilhões no orçamento. Essas medidas são essenciais para controlar o cumprimento da meta fiscal e o limite de gastos permitido pelo novo arcabouço Fiscal, que limita a alta a até 2,5% ao ano, descontada a inflação. Mercados em Foco edição 23/07/2024.
Contexto das Medidas
O cenário fiscal do Brasil tem sido desafiador. As recentes medidas de bloqueio e contingenciamento foram tomadas em resposta a um aumento nas projeções de gastos, particularmente devido aos gastos extraordinários com o Rio Grande do Sul. Ao mesmo tempo, houve uma redução na receita líquida prevista. Além disso, o governo ainda precisa lidar com R$ 87 bilhões em receitas duvidosas até o final do ano.
A combinação desses fatores levou a uma revisão na projeção de déficit primário, que quase dobrou, passando de R$ 14,5 bilhões para R$ 28,8 bilhões. Embora existam algumas sinalizações positivas, a interpretação majoritária entre os economistas é de que as despesas continuam subestimadas e as receitas superestimadas.
Desafios e Ajustes Necessários
Desde o início do ano, muitos analistas já alertavam que um déficit de R$ 15 bilhões seria insuficiente e que novos ajustes seriam inevitáveis. A atual composição do orçamento mostra que a dificuldade de adequar o balanço fiscal está aumentando. O detalhamento dos cortes ainda não foi apresentado e está previsto para o final do mês, junto com a lista das pastas afetadas.
Alcançar a meta de resultado primário zero ainda é considerado possível, mas exigirá um esforço significativo do governo. Atualmente, parece mais factível que a meta seja um déficit de 0,25% do PIB, mas mesmo essa meta apresenta desafios consideráveis. Olhando para 2025, a grande questão será como o governo lidará com o corte de R$ 26 bilhões em despesas obrigatórias.
Reação dos Mercados
A reação dos mercados foi inicialmente positiva, com um alívio na percepção fiscal ao longo do dia. Isso se deveu em parte à declaração do presidente Lula de que o governo bloqueará recursos sempre que necessário. No entanto, após a divulgação do relatório, o otimismo diminuiu um pouco.
Mesmo assim, a curva de juros (DI) caiu de ponta a ponta, com quedas mais acentuadas nos prazos mais longos. O dólar recuou para R$ 5,57 e o Ibovespa registrou leve alta, apesar da queda nas commodities que afetou negativamente as ações da Petrobrás e da Vale. Esse movimento reflete um efeito considerável da economia chinesa sobre os preços das commodities.
Situação Internacional
No cenário internacional, o minério de ferro enfrenta uma combinação difícil de oferta alta com demanda baixa, contribuindo para a queda nos preços e o aumento dos estoques. Nos Estados Unidos, a vice-presidente Kamala Harris tem recebido apoios importantes dentro do Partido Democrata e sua campanha já arrecadou mais de 90 milhões de dólares. Apesar disso, a perspectiva predominante é de que Donald Trump ganhará as próximas eleições.
Recentemente, os Treasuries americanos tiveram mais uma sessão de alta. No entanto, o destaque foi o rali das bolsas de valores, impulsionado pelo setor de tecnologia, que teve um desempenho forte antes da temporada de balanços.
Considerações
O relatório bimestral de avaliação de receitas e despesas do governo central trouxe à tona a complexidade e os desafios do cenário fiscal brasileiro. As medidas de bloqueio e contingenciamento são passos necessários, mas não suficientes por si só. O governo precisa continuar trabalhando arduamente para ajustar o balanço fiscal e atingir suas metas.
Enquanto isso, os mercados mostram uma reação mista, refletindo tanto a cautela quanto o otimismo cauteloso dos investidores. A situação internacional adiciona mais uma camada de complexidade ao cenário, destacando a interconexão das economias globais e o impacto das políticas domésticas nos mercados financeiros. O caminho à frente exigirá vigilância constante e ajustes contínuos para navegar por esses desafios econômicos e fiscais.
Encerramos o Mercados em Foco edição 23/07/2024. Desejando a todos um bom dia e bons negócios.