Mercados em Foco edição 20/08/2024

No “Mercados em Foco” de hoje, trazemos um resumo das últimas notícias e insights que impactaram os mercados globais e brasileiro. Nas últimas semanas, o cenário econômico global tem mostrado sinais de mudança, especialmente em relação à economia dos Estados Unidos. O temor de uma recessão, que vinha ganhando força ao longo do ano, parece estar aliviando gradativamente, à medida que novos dados econômicos indicam um caminho mais otimista. Este post explora os fatores que estão contribuindo para essa mudança de perspectiva, os principais dados econômicos que sustentam essa visão e os impactos no mercado financeiro global e brasileiro. Mercados em Foco edição 20/08/2024.

Sinais de Resiliência na Economia Americana

Na semana passada, os mercados receberam uma série de indicadores econômicos que reforçaram a visão de que a economia dos Estados Unidos pode estar se encaminhando para um “pouso suave” — um cenário em que o crescimento econômico desacelera sem entrar em recessão. Dois dos principais indicadores, o Índice de Preços ao Consumidor (CPI) e o Índice de Preços ao Produtor (PPI), trouxeram boas notícias ao mostrar sinais claros de arrefecimento da inflação.

Dados de Inflação: CPI e PPI

O CPI de julho, que mede a variação dos preços ao consumidor, aumentou 0,2% em relação ao mês anterior. O resultado foi em linha com as expectativas do mercado. Em termos anuais, o CPI subiu 3,2%, abaixo do pico de 9,1% registrado em junho de 2022. Este resultado foi amplamente interpretado como um sinal de diminuição das pressões inflacionárias. No entanto, o índice subjacente (core CPI), que exclui alimentos e energia, permanece em um patamar desconfortavelmente elevado.

O PPI, que mede os preços na porta de fábrica, subiu 0,3% em julho, após uma alta de 0,1% em junho. O PPI serve como um indicador antecedente para a inflação ao consumidor. Embora ainda haja desafios, como o preço dos serviços e da habitação, os dados sugerem uma desaceleração gradual da inflação. Este cenário é positivo para a economia americana.

Vendas no Varejo: Um Pilar de Sustentação

Outro dado importante divulgado na semana passada foi o das vendas no varejo de julho, que superaram as expectativas. Elas registraram um crescimento de 0,7% em relação ao mês anterior, bem acima da projeção de 0,3%. O consumo das famílias representa cerca de dois terços do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos. Isso torna as vendas no varejo um dos principais indicadores da saúde econômica do país.

Este desempenho robusto nas vendas sugere que o consumidor americano, apesar da inflação e do aumento das taxas de juros, continua a gastar, sustentando a economia em um nível elevado. Isso é crucial em um momento em que outras economias, como a da China, mostram sinais de desaceleração.

Riscos e Incertezas no Horizonte

Embora os dados recentes sejam encorajadores, ainda existem riscos significativos que podem influenciar o rumo da economia americana nos próximos meses. O principal deles é o mercado de trabalho, especialmente com a divulgação do relatório de emprego (payroll) de agosto, que será um ponto-chave para definir a trajetória da economia.

O Papel do Payroll

O payroll, que mede a criação de empregos fora do setor agrícola, é um dos dados mais observados pelos mercados e pelo Federal Reserve (Fed). Um crescimento forte no emprego pode indicar que a economia ainda tem fôlego, o que poderia levar o Fed a manter ou até aumentar as taxas de juros para controlar a inflação. Por outro lado, um payroll mais fraco pode reforçar os argumentos para uma desaceleração no ritmo de alta dos juros, aumentando as chances de um pouso suave.

Cenário de Pouso Suave, mas com Sinais de Recessão

Apesar do alívio no temor de recessão, o cenário econômico atual ainda é complexo e cheio de nuances. O termo “pouso suave” vem sendo usado para descrever uma desaceleração econômica controlada, onde o crescimento se reduz, mas sem entrar em uma recessão profunda. No entanto, a possibilidade de uma recessão técnica, onde a economia encolhe em dois trimestres consecutivos, não pode ser completamente descartada.

Além disso, os dados econômicos dos Estados Unidos mais do que compensaram a fraqueza observada na economia chinesa. A segunda maior economia do mundo tem mostrado sinais preocupantes, com desaceleração no crescimento industrial, menor expansão dos investimentos e fracos resultados no setor imobiliário. Esses fatores têm gerado incertezas globais, mas o desempenho resiliente da economia americana tem ajudado a mitigar parte desses efeitos.

Impactos no Mercado Financeiro Global e Brasileiro

O cenário de desaceleração gradual da inflação e a resiliência da economia americana têm levado a uma diminuição na aversão ao risco, ou seja, tem beneficiado os mercados financeiros globais. As principais bolsas de valores registraram ganhos, impulsionadas pela perspectiva de que o Fed poderá ser menos agressivo na elevação das taxas de juros.

Impactos no Brasil: Juros, Real e Ibovespa

No Brasil, o cenário externo tem influenciado positivamente o mercado financeiro local. O Banco Central Brasileiro, por meio de seus diretores, manteve um discurso cauteloso em relação à inflação, mas reconheceu a possibilidade de um aumento nos juros, caso necessário, para garantir o cumprimento da meta inflacionária. Isso levou a um leve aumento nas taxas de juros de curto prazo, enquanto as taxas de longo prazo permaneceram praticamente estáveis.

O Real, por sua vez, se beneficiou da melhora na percepção de risco global e da agenda política mais construtiva em Brasília. A moeda brasileira firmou-se abaixo dos R$5,50 em relação ao dólar, e poderia estar ainda mais valorizada se não fosse pelo desempenho fraco das commodities, um fator crucial para a economia brasileira.

O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, tem se destacado em meio a esse clima favorável. Combinando o cenário externo positivo com sinais de recuperação da economia brasileira, o índice se aproxima de sua máxima histórica, refletindo o otimismo dos investidores.

Perspectivas para a Semana

Para a semana que se inicia, a agenda econômica é relativamente tranquila, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. No cenário externo, o destaque será a ata da última reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) do Fed. Ela poderá fornecer mais pistas sobre os próximos passos da política monetária americana.

Entretanto, o evento mais aguardado da semana será o discurso de Jeremy Powell, presidente do Fed, no seminário de Jackson Hole. Além disso, este discurso será crucial para os mercados, que estarão atentos a qualquer sinalização sobre a futura trajetória das taxas de juros. A expectativa é que Powell reforce o compromisso do Fed com seu mandato duplo — controle da inflação e pleno emprego — e sugira uma possível redução nas taxas de juros, sem especificar a magnitude.

No Brasil, as atenções estarão voltadas para o Congresso, com a Câmara dos Deputados possivelmente votando o segundo projeto de lei complementar que regulamenta a reforma tributária, e o Senado se preparando para votar o projeto de lei que definirá as medidas de compensação da desoneração da folha de pagamentos.

Considerações

Em resumo, o alívio no temor de recessão nos Estados Unidos, sustentado por dados econômicos positivos, tem proporcionado um ambiente mais favorável para os mercados globais. No entanto, o cenário ainda é de incerteza, com riscos significativos que podem alterar o curso da economia nos próximos meses. Para investidores e analistas, a cautela permanece essencial, enquanto aguardam mais sinais concretos sobre o futuro da política monetária americana.

Encerramos o Mercados em Foco edição 20/08/2024. Desejando a todos um bom dia e bons negócios.

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