No “Mercados em Foco” de hoje, trazemos um resumo das últimas notícias e insights que impactaram os mercados globais e brasileiro. Nas últimas semanas, o temor de uma recessão iminente na economia dos Estados Unidos vem perdendo força, com indicadores econômicos mostrando sinais positivos que apontam para um cenário de “pouso suave”. Esse termo, utilizado por economistas e analistas, refere-se à desaceleração controlada da economia, onde o crescimento diminui, mas sem entrar em uma recessão profunda. Mercados em Foco edição 19/08/2024.
Dados de Inflação e Atividade Econômica
Na semana passada, novos dados reforçaram essa perspectiva mais otimista. Os índices de preços ao consumidor (CPI) e ao produtor (PPI) de julho mostraram um arrefecimento nas pressões inflacionárias. O CPI, que mede as variações de preços ao consumidor, apresentou uma desaceleração em relação aos meses anteriores, indicando que as medidas de política monetária implementadas pelo Federal Reserve (Fed) estão começando a surtir efeito. O PPI, que acompanha os preços recebidos pelos produtores, também registrou uma desaceleração, reforçando a visão de que os custos estão diminuindo ao longo da cadeia de produção.
Ao mesmo tempo, vários indicadores de atividade econômica mostraram resiliência, contrariando as expectativas mais pessimistas. O destaque foi para as vendas no varejo em julho, que superaram as expectativas dos analistas, com um crescimento acima do esperado. Esse é um dado particularmente importante, pois o consumo representa cerca de dois terços da economia dos Estados Unidos. Um desempenho robusto no varejo sugere que os consumidores ainda estão dispostos a gastar, mesmo diante de um cenário de incertezas econômicas.
Riscos de Desaceleração e o Papel do Payroll
Embora os dados recentes sejam encorajadores, ainda há riscos consideráveis de uma desaceleração mais acentuada. A economia dos EUA enfrenta desafios, como os efeitos cumulativos do aperto monetário, a incerteza global e as tensões comerciais. O principal dado a ser observado nas próximas semanas será o relatório de emprego (payroll) de agosto. O desempenho do mercado de trabalho é crucial para definir os rumos da economia americana. Se o payroll mostrar um mercado de trabalho robusto, com criação de empregos e estabilidade nos salários, isso pode confirmar a expectativa de um pouso suave. No entanto, um relatório fraco pode reacender os temores de uma recessão.
O Contexto Global e a Reação dos Mercados
No cenário global, os dados positivos dos Estados Unidos compensaram em grande parte a fraqueza dos números vindos da China. A segunda maior economia do mundo mostrou sinais de desaceleração, com um crescimento industrial mais lento, investimentos menores, vendas no varejo modestas e um setor imobiliário que continua a enfrentar dificuldades. Esses dados negativos geraram preocupações sobre o impacto global da desaceleração chinesa, mas a resiliência da economia americana ajudou a mitigar esses temores.
A desaceleração da inflação nos Estados Unidos, combinada com sinais de resiliência econômica, aumentou a probabilidade de um corte de 25 pontos base na próxima reunião do Fed. Essa possibilidade, que até recentemente era vista como improvável, ou seja, agora tem cerca de 70% de chance de se concretizar. A perspectiva de um corte nos juros fez com que a aversão ao risco diminuísse, impulsionando as principais bolsas de valores ao redor do mundo.
Impactos no Brasil e na Política Monetária Local
No Brasil, a melhora na percepção do cenário externo e a expectativa de uma política monetária mais branda nos Estados Unidos contribuíram para um ambiente econômico mais favorável. Os diretores do Banco Central mantiveram um discurso cauteloso em relação à inflação, reconhecendo que um aumento nas taxas de juros ainda é uma opção viável para garantir o cumprimento das metas inflacionárias. As taxas de juros de curto prazo no Brasil subiram ligeiramente, enquanto as de longo prazo permaneceram estáveis.
O real se beneficiou desse contexto, apreciando-se em relação ao dólar e se firmando abaixo da marca de R$ 5,50. Além disso, a melhor percepção de risco e o ambiente político mais construtivo em Brasília contribuíram para o fortalecimento da moeda brasileira. No entanto, o desempenho fraco das commodities impediu uma valorização ainda maior do real.
Na economia doméstica, os dados recentes reforçaram a perspectiva de um crescimento mais robusto em 2024, especialmente no segundo trimestre. O principal destaque foi o setor de serviços, que registrou um crescimento expressivo de 1,7%, superando as expectativas e sinalizando uma recuperação sólida. A indústria também mostrou sinais de recuperação, embora em um ritmo mais moderado.
Desempenho do Ibovespa e Perspectivas para a Semana
O desempenho do Ibovespa, principal índice da bolsa de valores brasileira, tem sido notável nas últimas semanas. Beneficiado pelo clima favorável tanto no cenário interno quanto no externo, o índice está próximo de sua máxima histórica. A combinação de uma política monetária mais suave nos Estados Unidos, a valorização do real e os dados econômicos positivos no Brasil contribuíram para esse desempenho robusto.
Para a semana que se inicia, a agenda econômica é relativamente leve, mas com eventos que podem trazer volatilidade aos mercados. Nos Estados Unidos, o destaque será a divulgação da ata da última reunião do Fed, que manteve os juros inalterados. O documento poderá fornecer pistas sobre os próximos passos da política monetária americana, especialmente em relação à possibilidade de cortes nas taxas de juros.
No Brasil, as atenções estarão voltadas para o Congresso Nacional. A Câmara dos Deputados deve votar o segundo projeto de lei complementar que regulamenta a reforma tributária, um tema crucial para a agenda econômica do governo. No Senado, a expectativa está na votação do projeto de lei que trata das medidas de compensação da desoneração da folha de pagamentos, uma questão que tem gerado intensos debates entre parlamentares e setores empresariais.
No cenário internacional, a zona do euro também terá sua parcela de atenção, com a divulgação dos dados sobre a variação dos salários no segundo trimestre. Esse indicador é importante para avaliar as pressões inflacionárias na região, que enfrenta desafios semelhantes aos dos Estados Unidos, com inflação ainda elevada e crescimento econômico estagnado. Além disso, serão divulgadas as prévias dos índices de gerentes de compras (PMI) de agosto, que fornecerão um panorama mais atualizado sobre o desempenho econômico da zona do euro.
Considerações
Em resumo, a economia dos Estados Unidos vem mostrando sinais de resiliência, o que alivia, pelo menos por enquanto, os temores de uma recessão profunda. No entanto, os riscos permanecem, e os próximos dados, especialmente o payroll de agosto, serão cruciais para confirmar ou refutar a expectativa de um pouso suave. No Brasil, o ambiente econômico segue positivo, com a moeda local se fortalecendo e a bolsa de valores em alta, mas as incertezas políticas e o desempenho das commodities continuam a ser fatores de atenção.
O cenário global continua a ser desafiador, com a desaceleração da China e a estagnação da zona do euro. Além disso, neste contexto, a política monetária dos principais bancos centrais do mundo, especialmente o Fed, será determinante para os próximos meses. É um momento de otimismo cauteloso, ou seja, onde qualquer sinalização de mudança nas direções econômicas pode ter impactos significativos nos mercados globais.
Encerramos o Mercados em Foco edição 19/08/2024. Desejando a todos um bom dia e bons negócios.