Mercados em Foco edição 19/07/2024

No “Mercados em Foco” de hoje, trazemos um resumo das últimas notícias e insights que impactaram os mercados globais e brasileiro. Na noite de ontem, após a reunião dos ministros da Junta de Execução Orçamentária com o presidente Lula, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou uma contenção de R$ 15 bilhões para cumprir o arcabouço fiscal deste ano. Essa divulgação, inicialmente prevista para o dia 22, foi antecipada devido ao ruído gerado ao longo da semana, conforme explicado por Haddad. A medida consiste em um bloqueio de R$ 11,2 bilhões, decorrente do gasto acima do limite de 2,5% estabelecido pelo arcabouço fiscal, e um contingenciamento de R$ 3,8 bilhões, ou seja, provocado pela frustração de receitas. Mercados em Foco edição 19/07/2024.

Contexto das Medidas Anunciadas

Com pendências no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Senado, a meta do superávit primário deve se manter dentro da banda de 0,25 ponto percentual do Produto Interno Bruto (PIB). No entanto, o detalhamento completo dessas medidas ficará para a próxima segunda-feira, no relatório bimestral de avaliação de receitas e despesas. Até lá, algumas análises preliminares podem ser feitas a partir das sinalizações já dadas.

Análise das Sinalizações Preliminares

Pelas indicações, parece que não haverá compensação da desoneração nem um pente fino nos benefícios neste relatório. Para os mercados, a principal leitura foi positiva: apesar de os R$ 15 bilhões não serem suficientes e ser necessário entregar mais adiante, já é um primeiro passo confirmado. A expectativa anterior estava muito baseada em promessas, e havia também a possibilidade de um valor menor com uma composição pior. Com isso, os contratos de Depósito Interfinanceiro (DIs) que estavam caminhando para fechar com alta próxima de 0,20 pontos percentuais acabaram melhorando no final do dia e fecharam com um avanço de 0,12 pontos percentuais.

Impacto no Mercado e Expectativas Fiscais

O real, que vinha desvalorizando significativamente contra o dólar, corrigiu-se. No geral, o mercado reagiu positivamente à atualização fiscal. Contudo, o índice Bovespa teve a pior queda em mais de um mês, resultado de uma combinação de fatores negativos. Preocupações fiscais, mau humor externo, queda nas commodities e a confirmação da doença de Newcastle no Rio Grande do Sul. Embora ainda não haja nenhum embargo, há a possibilidade de que as exportações de frango sejam interrompidas, o que afetou negativamente as ações dos frigoríficos e do setor de consumo.

A doença de Newcastle é uma infecção viral altamente contagiosa que afeta aves domésticas e selvagens, especialmente galinhas. A preocupação com a possível disseminação desta doença e as medidas que podem ser adotadas para contê-la têm implicações diretas nas exportações de carne de frango do Brasil, um dos maiores exportadores globais desse produto. A mera possibilidade de embargos comerciais ou restrições adicionais já é suficiente para abalar a confiança dos investidores no setor.

Panorama Internacional

O grande destaque da semana na agenda econômica foi a decisão do Banco Central Europeu (BCE) de manter as taxas de juros inalteradas. A presidente Christine Lagarde afirmou que as taxas continuarão em níveis restritivos até que a inflação retorne à meta de 2%, o que se espera ocorrer no segundo semestre de 2025. Lagarde evitou comprometer-se com decisões futuras e reforçou a dependência dos dados, ou seja, apontando que os riscos para o crescimento econômico estão inclinados para o lado negativo. Sem muitas novidades, o mercado segue esperando um novo corte de 25 pontos-base na próxima reunião.

Nos Estados Unidos, os pedidos iniciais de auxílio-desemprego foram o destaque da agenda. Isso reforça o esfriamento do mercado de trabalho e abrindo espaço para cortes de juros em setembro. Este dado é particularmente importante porque indica uma desaceleração no ritmo de contratações, o que pode aliviar as pressões inflacionárias e permitir ao Federal Reserve (Fed) adotar uma postura mais acomodatícia. Na corrida eleitoral, o presidente Biden tem mostrado uma crescente receptividade aos apelos para que desista de sua recandidatura. Ontem, ele solicitou uma pesquisa sobre o possível desempenho de sua vice, Kamala Harris, o que causou uma reação no mercado, com valorização do dólar e aumento nos Treasuries, enquanto as bolsas registraram queda devido a uma correção dos ganhos recentes, incertezas eleitorais e indefinições chinesas.

Detalhes Adicionais e Considerações Finais

Para hoje, a agenda está tranquila, mas o mercado seguirá atento a possíveis atualizações fiscais. A expectativa é que as reações continuem positivas, especialmente considerando que hoje é o último dia antes do recesso parlamentar informal. Em resumo, as medidas anunciadas pelo ministro Haddad representam um primeiro passo importante para a consolidação fiscal, apesar de insuficientes no curto prazo. O cenário externo continua a ser monitorado de perto, com particular atenção às políticas monetárias na Europa e nos Estados Unidos, além das incertezas políticas e econômicas globais.

A Importância da Comunicação Transparente

A antecipação do anúncio por parte de Haddad, buscando evitar especulações, destaca a importância da comunicação transparente na gestão econômica. Em tempos de incerteza, a clareza nas ações do governo é fundamental para manter a confiança dos investidores e estabilizar os mercados. A resposta positiva dos mercados ao anúncio, mesmo que inicial e modesta, sublinha como a previsibilidade e a transparência podem influenciar a percepção e as expectativas econômicas.

Considerações

A conjuntura econômica atual é complexa e desafiadora. Internamente, o Brasil enfrenta a tarefa árdua de equilibrar suas contas públicas enquanto lida com pressões políticas e sociais. Externamente, a economia global está em um estado de incerteza, com importantes centros econômicos, como a Europa e os Estados Unidos, navegando por suas próprias dificuldades econômicas e políticas.

Os próximos passos do governo brasileiro serão cruciais para determinar a trajetória econômica do país. Além disso, a capacidade de implementar medidas fiscais eficazes, aliada a uma comunicação clara e transparente, será essencial para construir um ambiente de confiança e estabilidade. Ao mesmo tempo, as decisões dos bancos centrais globais e as dinâmicas políticas internacionais continuarão a influenciar o cenário econômico doméstico.

Em conclusão, a contenção anunciada por Fernando Haddad é um passo importante, mas muitos desafios ainda estão à frente. Há necessidade de um ajuste fiscal mais abrangente e sustentável. A resposta às pressões externas e internas, e a gestão das expectativas do mercado serão elementos chave na evolução do cenário econômico brasileiro nos próximos meses.

Encerramos o Mercados em Foco edição 19/07/2024. Desejando a todos um bom dia e bons negócios.

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