No “Mercados em Foco” de hoje, trazemos um resumo das últimas notícias e insights que impactaram os mercados globais e brasileiro. A Super Quarta chegou, trazendo um dos dias mais aguardados pelos mercados financeiros globais. Hoje, tanto o Banco Central do Brasil quanto o Federal Reserve (Fed) dos Estados Unidos anunciarão suas decisões sobre a política monetária, em um cenário de incertezas que dominam as expectativas dos investidores. Após a maior inflação desde a década de 1970 e a crise de saúde mais grave desde a gripe espanhola, o Fed finalmente parece pronto para iniciar seu ciclo de flexibilização monetária. Mercados em Foco edição 18/09/2024.
No Brasil, o cenário é diferente. Pela primeira vez na história, enquanto o Fed deve reduzir sua taxa de juros, o Banco Central brasileiro planeja um aumento. Esse contraste reforça a complexidade do momento para ambas as economias, que enfrentam desafios distintos. Vamos explorar as expectativas para essas decisões e suas implicações nos mercados.
A Situação no Brasil: Expectativa de Alta nos Juros
No Brasil, o mercado já precificou uma alta de 0,25 ponto percentual na taxa Selic, levando-a para 10,75%. Essa elevação ocorre em um contexto onde os riscos econômicos se intensificaram. Desde a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o cenário econômico do país passou por mudanças significativas, aumentando as incertezas sobre a trajetória futura da economia.
A inflação, que já era um desafio persistente, piorou nos últimos meses. A desvalorização do real frente ao dólar, o risco fiscal e o estreitamento do hiato do produto colocam ainda mais pressão sobre o Banco Central. O balanço de riscos, que já era assimetricamente inclinado para o lado inflacionário, agora se agravou. O IPCA, principal índice de inflação do país, está projetado para fechar o ano em 4,4%, mas qualquer choque adicional — como uma crise climática — pode fazer com que a inflação ultrapasse o teto da meta estabelecido pelo governo.
Além disso, outro fator relevante no cenário brasileiro é a incerteza política. Gabriel Galípolo, recém-indicado para ser o próximo presidente do Banco Central, será sabatinado pelo Senado após as eleições municipais. O mercado já começa a observar seus movimentos, o que gera mais atenção sobre a postura do Banco Central nos próximos meses.
O Cenário nos Estados Unidos: O Início da Flexibilização Monetária
Nos Estados Unidos, o foco está no início do ciclo de flexibilização monetária pelo Federal Reserve. Após um período prolongado de altas nas taxas de juros para combater a inflação, o mercado espera que o Fed reduza sua taxa em 0,25 ponto percentual, levando-a para um intervalo entre 5% e 5,25%. A dúvida central é se o corte será de 0,25% ou 0,50%, uma vez que ambos os cenários estão sobre a mesa.
A economia dos EUA tem mostrado sinais de desaceleração, mas ainda não aponta para uma recessão iminente. O mercado de trabalho, por exemplo, desacelerou, mas não entrou em colapso. O último relatório de emprego, conhecido como payroll, surpreendeu ao mostrar uma queda no desemprego e um crescimento salarial acima do esperado. Isso, combinado com uma demanda agregada ainda elevada e um gap de produção positivo, mantém a inflação em risco de alta, o que justifica a cautela do Fed.
Apesar disso, há receios sobre o ritmo de desaceleração econômica. Se o Fed optar por um corte menor, de 0,25%, o dólar pode se fortalecer, enquanto os mercados acionários podem reagir negativamente a novos dados fracos de atividade econômica. Por outro lado, um corte de 0,50% pode animar as bolsas globais, mas também enfraquecer o dólar, gerando uma nova rodada de volatilidade nos mercados de câmbio.
O Impacto nos Mercados: Brasil e EUA
As decisões de política monetária no Brasil e nos Estados Unidos têm o potencial de provocar movimentos significativos nos mercados globais e locais. No Brasil, a alta da Selic já está amplamente precificada, o que deve limitar o impacto imediato sobre o mercado de ações. No entanto, a postura do Banco Central e suas sinalizações futuras serão acompanhadas de perto pelos investidores.
A moeda brasileira, o real, que se valorizou recentemente, voltou a cair abaixo de R$ 5,50 por dólar. Esse movimento reflete a combinação de expectativas de cortes de juros nos EUA e a perspectiva de uma política monetária mais rígida no Brasil. Caso o Banco Central opte por uma alta maior ou sinalize um ciclo de aperto mais prolongado, o real pode se valorizar ainda mais.
Nos EUA, a expectativa de um corte menor na taxa de juros pode fortalecer o dólar, pressionando as moedas emergentes, como o real. Contudo, se o Fed surpreender com um corte maior, os mercados acionários globais podem reagir positivamente, enquanto o dólar pode se enfraquecer, aliviando a pressão sobre as moedas emergentes.
O Fator Político: Galípolo e Trump
Dois fatores políticos relevantes também merecem atenção nesta Super Quarta. No Brasil, o posicionamento de Gabriel Galípolo, sucessor de Roberto Campos Neto, será observado de perto. Sua indicação ao cargo de presidente do Banco Central ainda depende de aprovação no Senado, mas o mercado já começa a precificar sua influência sobre a política monetária do país. Sua postura poderá determinar o rumo das taxas de juros nos próximos meses.
Nos EUA, o contexto político também está no radar. O ex-presidente Donald Trump, que lidera as pesquisas para as eleições presidenciais de 2024, pode acusar o atual presidente do Fed, Jerome Powell, de favorecer os democratas ao cortar os juros antes das eleições. A proximidade das eleições municipais nos EUA adiciona uma camada extra de complexidade à decisão do Fed, que precisa equilibrar sua política monetária sem ser acusado de interferência política.
As Projeções Futuras e o Discurso de Powell
Outro ponto relevante a ser observado nesta Super Quarta é a atualização das projeções trimestrais do Federal Reserve. O chamado “gráfico de pontos”, que mostra a expectativa dos membros do Fed sobre a trajetória futura dos juros, será um indicador importante para o mercado. Historicamente, o Fed tem cumprido suas projeções de curto prazo, mas o gráfico perde relevância para prazos mais longos.
Além disso, o discurso de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, será um dos momentos mais aguardados do dia. Suas declarações darão pistas sobre o futuro da política monetária dos EUA, especialmente em relação à trajetória dos juros para os próximos trimestres.
Considerações
A Super Quarta é um evento de extrema importância para os mercados globais, e as decisões de política monetária no Brasil e nos Estados Unidos terão repercussões amplas. No Brasil, o ciclo de alta de juros está apenas começando, enquanto nos EUA o ciclo de cortes pode ser iniciado. As incertezas permanecem altas, tanto sobre o ritmo quanto sobre o tamanho das mudanças. Independentemente das decisões de hoje, o cenário econômico global continua volátil, e as ações dos bancos centrais serão determinantes para o futuro da economia mundial. Os mercados, como sempre, reagirão rapidamente às novidades, mas o impacto de longo prazo ainda está por ser definido.
Encerramos o Mercados em Foco edição 18/09/2024. Desejando a todos um bom dia e bons negócios.