Mercados em Foco edição 11/09/2024

No “Mercados em Foco” de hoje, trazemos um resumo das últimas notícias e insights que impactaram os mercados globais e brasileiro. O IPCA de agosto trouxe uma leve deflação de 0,02%, abaixo das expectativas de mercado que projetavam uma deflação de 0,01%. Esse resultado marcou um alívio temporário na inflação, mas o cenário econômico ainda exige cautela. No acumulado de 12 meses, o índice saiu do teto da meta de 4,50% para 4,24%, representando uma melhora em termos qualitativos na composição dos dados. Mercados em Foco edição 11/09/2024.

Composição do IPCA: Núcleos e Serviços Subjacentes

A desaceleração nas principais métricas foi um ponto positivo, com destaque para a média dos núcleos e serviços subjacentes. Esses indicadores, que são considerados mais resilientes a choques temporários, sugerem que as pressões inflacionárias começam a ceder. No entanto, a deflação do IPCA em agosto não elimina os riscos para o futuro. A bandeira tarifária de energia elétrica, pressionada pela seca prolongada, permanece um fator relevante de alta. Além disso, os dados de alta frequência mostram que a deflação nos preços de alimentação no domicílio está diminuindo.

Projeções de Inflação e Balanço de Riscos do Banco Central

Atualmente, nossa projeção para a inflação está em 4,4% para o fim do ano, com viés de alta. O próprio balanço de riscos do Banco Central aponta para uma assimetria autista, o que significa que os fatores de alta ainda superam os de baixa no horizonte. A seca prolongada continua a pressionar os preços da energia elétrica, e o setor alimentício também começa a enfrentar desafios no controle de preços. Além disso, a depreciação do real aumenta as pressões inflacionárias, uma vez que eleva o custo de importação de insumos e produtos finais.

Ambiente Externo e Cenário Doméstico

No cenário internacional, o ambiente externo mostrou sinais menos adversos, mas as incertezas persistem. A fragilidade econômica da China continua a preocupar, afetando negativamente as commodities globais e aumentando os temores de recessão nos Estados Unidos. No cenário doméstico, as preocupações também prevalecem, especialmente no que diz respeito à desancoragem das expectativas de inflação e ao ritmo de recuperação econômica. O Produto Interno Bruto (PIB) tem surpreendido positivamente, levando a uma revisão da estimativa de crescimento para 3% em 2024. Contudo, o hiato do produto, que mede a diferença entre a capacidade de produção e o nível atual de produção, está mais apertado do que o esperado.

O Real e a Pressão Cambial

A moeda brasileira foi um dos principais pontos de pressão inflacionária nos últimos meses. O real desvalorizou significativamente, com a taxa de câmbio ultrapassando os R$ 5,65 por dólar. A depreciação do real tem sido alimentada por incertezas fiscais e pela deterioração das contas externas. O risco fiscal é uma preocupação central, pois o governo ainda enfrenta desafios para equilibrar suas finanças. Qualquer atraso ou mudança nas políticas fiscais pode afetar ainda mais a moeda e, consequentemente, a inflação.

O Impacto do IPCA nos Mercados

Apesar da surpresa positiva do IPCA de agosto, os mercados financeiros reagiram com cautela. Os DI’s fecharam próximo dos ajustes do dia anterior, com as taxas curtas caindo, enquanto as de prazos mais longos subiram. Isso reflete a visão de que, embora a inflação tenha recuado, as pressões sobre os preços ainda persistem, especialmente em função da política fiscal e das incertezas internacionais.

Petróleo e Commodities no Cenário Internacional

No cenário global, o preço do petróleo foi um dos principais fatores de volatilidade nos mercados. A queda no valor do barril de Brent, que ficou abaixo de 70 dólares pela primeira vez desde dezembro de 2021, foi impulsionada por vários fatores negativos. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) revisou para baixo suas expectativas de demanda global, em parte devido à fraqueza econômica da China. Isso afetou outras commodities e aumentou os temores de uma recessão global.

Nos Estados Unidos, os títulos do Tesouro (Treasuries) também refletiram esse cenário de pessimismo, atingindo as mínimas do ano. A força do dólar em relação às moedas emergentes foi outro reflexo da incerteza global. O real, por exemplo, desvalorizou mais de 1% no dia, adicionando mais pressão inflacionária ao cenário doméstico.

Mercados Financeiros: Reações Globais

Nos mercados de ações, o Ibovespa sofreu leve queda, influenciado principalmente pelo desempenho negativo das commodities. No cenário externo, os movimentos foram mistos. O índice Dow Jones recuou, enquanto o S&P 500 e o Nasdaq avançaram, refletindo a volatilidade dos mercados diante das incertezas econômicas globais.

Atualizações Recentes: Setor Bancário e Bloqueio do Orçamento

Duas atualizações importantes merecem destaque no cenário econômico atual. A primeira foi o anúncio do vice-presidente de Supervisão do Federal Reserve (FED), Michael Baer, sobre uma nova proposta de regulação do setor bancário. Em resposta à pressão do setor financeiro, o aumento de capital para os maiores bancos será reduzido de 19% para 9%, e os bancos menores serão isentos de muitas das novas regras.

A segunda atualização relevante veio do secretário do Tesouro brasileiro, Rogério Ceron, que sinalizou a possibilidade de um novo bloqueio orçamentário de até R$ 5 bilhões. Esse valor, embora abaixo das expectativas de mercado, reflete a necessidade de ajuste fiscal diante do aumento das despesas obrigatórias do governo. O bloqueio pode ter implicações significativas para o cenário macroeconômico, especialmente em relação à confiança dos investidores e ao controle das contas públicas.

Olhando Para a Frente: Expectativas para a Inflação nos EUA

A agenda econômica global também traz eventos importantes para o Brasil. O destaque é a inflação de agosto nos Estados Unidos. O consenso de mercado aponta para uma alta de 0,2% tanto para o índice geral de preços ao consumidor (CPI) quanto para o núcleo da inflação. Em termos anuais, o índice geral deve cair de 2,9% para 2,5%, enquanto o núcleo deve se manter em 3,2%. Esses números são cruciais para a decisão de política monetária do Federal Reserve na próxima semana. Caso as expectativas se confirmem, o FED pode se aproximar de suas metas de inflação, o que traria alívio para os mercados globais.

Cenário Doméstico: Setor de Serviços e PIB

No Brasil, o IBGE divulga os dados do setor de serviços de julho. Após um crescimento expressivo de 1,7% no mês anterior, o setor pode não conseguir sustentar esse desempenho recorde. Espera-se um recuo de 0,4%, devolvendo parte dos ganhos acumulados. Essa desaceleração, embora esperada, pode impactar as expectativas para o PIB do terceiro trimestre e reforçar a necessidade de cautela no cenário econômico doméstico.

Considerações

Embora o IPCA de agosto tenha surpreendido positivamente, o cenário econômico ainda é desafiador. A desvalorização do real, os riscos fiscais e as incertezas globais mantêm a inflação sob pressão. O ambiente externo, embora menos adverso, ainda apresenta sinais de fragilidade, especialmente em relação à China e ao setor de commodities. Por outro lado, o mercado de trabalho e o PIB brasileiro seguem surpreendendo, mas com riscos fiscais que não podem ser ignorados. Assim, a mensagem principal do IPCA de agosto é clara: a inflação recuou, mas as pressões inflacionárias continuam presentes.

Encerramos o Mercados em Foco edição 11/09/2024. Desejando a todos um bom dia e bons negócios.

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