No “Mercados em Foco” de hoje, trazemos um resumo das últimas notícias e insights que impactaram os mercados globais e brasileiro. A primeira semana de setembro trouxe dados importantes sobre o mercado de trabalho dos Estados Unidos. O relatório de emprego de agosto, conhecido como payroll, veio mais fraco do que o esperado, confirmando um cenário de desaceleração da economia norte-americana, mas sem sinalizar uma recessão. Mesmo frustrando expectativas, o relatório apresentou alguns dados positivos, como a queda na taxa de desemprego e o crescimento salarial elevado. Mercados em Foco edição 09/09/2024.
Esses números reforçam a expectativa de que o Federal Reserve (FED) possa iniciar uma flexibilização gradual da política monetária. O mercado projeta que na próxima reunião, o FED deve anunciar um corte de 0,25% na taxa de juros. Para as reuniões seguintes, investidores esperam um ciclo de sete reduções consecutivas, com dois cortes de 0,50% até o fim de 2024. Ao final desse ciclo, a taxa básica de juros dos EUA pode chegar a 3,25% no meio de 2025. No entanto, essas expectativas de cortes mais agressivos parecem exageradas e podem ser reavaliadas conforme novos dados forem divulgados.
Impacto nos Mercados Financeiros
Os dados mais fracos do mercado de trabalho norte-americano impactaram diretamente os mercados globais. Na semana passada, observou-se quedas generalizadas nas bolsas de valores, nos rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA e na cotação do dólar. Os rendimentos das Treasuries de curto prazo, especialmente os de dois anos, caíram à medida que os investidores ajustaram suas expectativas para a política monetária do FED. O dólar, por sua vez, perdeu valor frente às principais moedas globais, refletindo a perspectiva de cortes nas taxas de juros.
Cenário Econômico Brasileiro
No Brasil, o grande destaque da semana foi a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre de 2024. O crescimento de 1,4% no período superou as expectativas do mercado e levou a uma revisão para cima das projeções de crescimento do PIB para o ano, que agora está em 3%. Esse desempenho positivo da economia brasileira foi impulsionado pelos setores de serviços e indústria, que apresentaram crescimento robusto. Do lado da demanda, o consumo das famílias e os investimentos foram os principais motores do crescimento.
Expectativas para a Política Monetária no Brasil
No cenário doméstico, as expectativas para a política monetária brasileira permanecem em foco. Embora o Banco Central tenha mantido uma postura cautelosa, o mercado ainda precifica uma alta adicional de 0,25% na próxima reunião do Copom, seguida de um aumento maior, de 0,50%, nas reuniões subsequentes. No final do ciclo de aperto monetário, espera-se que a taxa Selic fique acima de 12%. Esse movimento de elevação dos juros no Brasil, combinado com a expectativa de cortes nas taxas de juros nos EUA, tem favorecido a valorização do real, que encerrou a semana cotado a R$ 5,59 por dólar.
Desempenho do Ibovespa
Apesar da aversão ao risco global e da queda nas commodities, o Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, teve um desempenho melhor em comparação a seus pares internacionais. A atividade econômica aquecida no Brasil ajudou a limitar as perdas no mercado acionário, mesmo em um ambiente de maior incerteza global.
Agenda Econômica da Semana
Para a segunda semana de setembro, a agenda econômica promete ser movimentada, tanto no Brasil quanto no exterior. No cenário doméstico, o principal destaque será a divulgação do IPCA de agosto, o índice oficial de inflação. O mercado projeta uma deflação de 0,01%, ou seja, levaria o acumulado em 12 meses de 4,50% para 4,25%, abaixo do teto da meta de inflação. Espera-se uma desaceleração tanto nos preços administrados quanto nos preços livres, com destaque para as quedas nas tarifas de energia elétrica e passagens aéreas, além de uma menor pressão dos combustíveis.
Por outro lado, a queda nos preços dos alimentos deve ser mais modesta, enquanto o setor de educação pode sofrer uma pressão sazonal devido ao retorno às aulas. Além disso, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará os dados de atividade econômica referentes a julho, com destaque para as pesquisas de serviços e comércio.
Após um crescimento expressivo de 1,7% no setor de serviços, a expectativa é de uma leve correção, com um recuo de 0,4%. No comércio varejista, os resultados devem ser mistos: o comércio restrito deve crescer 0,7%, enquanto o varejo ampliado, que inclui veículos e materiais de construção, deve recuar 0,3%. Esses resultados, somados à queda de mais de 1% na produção industrial, indicam que o IBC-BR, índice de atividade econômica do Banco Central, pode vir no campo negativo em julho.
Apesar desses sinais de moderação no início do segundo semestre, a economia brasileira segue aquecida, estabilizando-se em níveis recordes. O hiato do produto permanece apertado, e o crescimento na comparação interanual continua robusto.
Expectativas para a Inflação nos EUA
No cenário internacional, o principal dado da semana será a divulgação do CPI de agosto nos Estados Unidos, que ocorrerá na quarta-feira. O consenso do mercado é de uma alta de 0,2% tanto no índice geral quanto no núcleo, que exclui itens voláteis como alimentos e energia. Em termos anuais, o índice geral deve desacelerar de 2,9% para 2,6%, enquanto o núcleo deve se manter estável em 3,2%.
Esses números serão cruciais para a próxima reunião de política monetária do FED. Caso se confirmem, os dados reforçarão a narrativa de que a inflação está se alinhando à meta do banco central, especialmente quando ajustada pelo PCI (Personal Consumption Expenditures), o indicador preferido do FED.
Banco Central Europeu e a Política Monetária
Na Europa, o destaque da semana será a reunião do Banco Central Europeu (BCE), que ocorrerá na quinta-feira. O mercado espera que o BCE anuncie um novo corte nas taxas de juros, possivelmente para 3,5%. No entanto, a decisão não deve ser unânime, refletindo as divergências dentro do conselho do banco.
A presidente Christine Lagarde deve argumentar que a desaceleração do crescimento salarial e a inflação mais próxima da meta justificam esse movimento de flexibilização monetária. Além disso, as projeções de crescimento do PIB e inflação na zona do euro devem ser revisadas para baixo, reforçando a necessidade de estímulos adicionais.
Considerações
A primeira semana de setembro foi marcada por dados econômicos que reforçaram a perspectiva de desaceleração tanto nos EUA quanto no Brasil, embora sem sinais de recessão iminente. Nos EUA, a expectativa de cortes graduais nos juros pelo FED vem pressionando o dólar e os rendimentos dos títulos. Além disso, no Brasil, o crescimento robusto da economia e a elevação dos juros têm favorecido a valorização do real. A próxima semana trará novos dados importantes, especialmente no que diz respeito à inflação nos EUA e no Brasil.
Encerramos o Mercados em Foco edição 09/09/2024. Desejando a todos um bom dia e bons negócios.