No “Mercados em Foco” de hoje, trazemos um resumo das últimas notícias e insights que impactaram os mercados globais e brasileiro. O mercado financeiro vive uma semana de expectativas intensas, com atenção voltada para o tão aguardado relatório de empregos dos Estados Unidos, o Payroll de agosto. Esse indicador, um dos mais esperados dos últimos meses, será fundamental para avaliar o estado do mercado de trabalho americano e seu impacto nas decisões de política monetária do Federal Reserve (Fed). Os dados divulgados até o momento trouxeram uma mistura de sinais, gerando reações moderadas tanto nos mercados globais quanto no Brasil. Mercados em Foco edição 06/09/2024.
Dados Mistos da Economia Americana
Na véspera do Payroll, os dados de atividade dos Estados Unidos vieram mistos. Por um lado, o mercado de trabalho mostrou fragilidade, surpreendendo negativamente os analistas. O relatório da ADP, que mede a criação de empregos no setor privado, indicou 46 mil vagas a menos do que o esperado em agosto, um resultado bem inferior ao de julho. Esse dado gerou preocupação, pois reforça a percepção de que o mercado de trabalho pode estar desacelerando de forma mais acentuada do que o previsto.
Por outro lado, nem todos os sinais foram negativos. A abertura do mercado de trabalho não foi tão ruim quanto se esperava. Além disso, o número de pedidos de auxílio-desemprego veio abaixo do esperado, sinalizando que o ritmo de demissões não está se acelerando significativamente. Esses dados ajudaram a limitar o temor de uma recessão imediata nos Estados Unidos.
Além disso, os índices PMI e ISM de serviços vieram mais fortes, mostrando que o setor de serviços, responsável por grande parte da economia americana, continua robusto. Esse cenário misto manteve os mercados em alerta, já que a principal prioridade do Fed no momento é o mercado de trabalho, e qualquer sinal de fraqueza nesse setor pode influenciar a política monetária.
Impactos nos Mercados Globais
Com a divulgação dos dados mistos, os ativos financeiros reagiram de maneira cautelosa. Os títulos do Tesouro americano, conhecidos como Treasuries, registraram desvalorização, refletindo a expectativa de que o Fed possa adotar uma postura menos agressiva na elevação dos juros. O dólar seguiu a mesma direção, também perdendo força frente a outras moedas importantes.
Nas bolsas de valores, o sentimento foi de cautela. O mercado americano fechou praticamente estável, com um movimento misto entre os setores. As ações ligadas à tecnologia, que sofreram quedas nos dois pregões anteriores, se recuperaram, trazendo um alívio para o setor. No entanto, o cenário geral ainda é de incerteza, com investidores aguardando o resultado do Payroll para tomar decisões mais concretas.
Mercado Brasileiro: Juros em Queda e Real Valorizado
No Brasil, o cenário internacional de queda nos juros e desvalorização do dólar trouxe um alívio para os ativos locais. O mercado de juros futuros, representado pelos DIs, recuou de maneira disseminada, refletindo a expectativa de que o ciclo de queda dos juros nos Estados Unidos possa impactar positivamente o Brasil.
Outro fator que contribuiu para o otimismo local foi o discurso do diretor de política econômica do Banco Central, Diogo Guillen. Ele afirmou que, se houver necessidade de uma nova alta de juros no Brasil, ela será gradual. Essa declaração foi bem recebida pelos mercados, pois indica que o Banco Central não adotará medidas bruscas, mantendo a previsibilidade nas decisões de política monetária.
Com esse cenário, o real se valorizou mais de 1%, fechando o dia cotado a R$ 5,57 frente ao dólar. Além disso, a captação de 750 milhões de dólares em títulos de dívida pela Eletrobras também trouxe um impulso positivo para o mercado.
Ibovespa Estável, Cenário Fiscal Preocupa
No mercado acionário, o Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, ficou praticamente estável após uma sequência de altas. Mesmo com o desempenho moderado, o índice se manteve no campo positivo. A recuperação das ações de tecnologia nos Estados Unidos ajudou a sustentar o Ibovespa, enquanto o setor de commodities continuou atraindo investidores.
Por outro lado, o cenário fiscal do Brasil continua preocupante. O Tesouro Nacional divulgou que o déficit do governo em julho foi maior do que o esperado, o que acendeu um alerta no mercado. Embora a receita tenha vindo forte, o déficit acumulado em 12 meses ultrapassou R$ 230 bilhões, representando mais de 2% do Produto Interno Bruto (PIB). A principal preocupação é com as despesas obrigatórias, que continuam sendo um grande desafio para o equilíbrio fiscal do país.
Balança Comercial e Setor Externo
Outro ponto que merece destaque é o resultado da balança comercial de agosto, que mostrou um superávit bem mais fraco que o esperado. O setor externo, que tem sido um ponto de apoio para a economia brasileira, está perdendo força nos últimos meses. A queda nas exportações, combinada com o aumento das importações, tem prejudicado os termos de troca do Brasil.
Essa deterioração no fluxo cambial preocupa os analistas, pois pode pressionar o real nos próximos meses. A desvalorização da moeda brasileira é um risco que o mercado está monitorando de perto, principalmente em um cenário de desaceleração global e incertezas no comércio internacional.
Riscos Externos: Olho no Japão
Outro fator externo que pode influenciar o Brasil é o cenário econômico do Japão. Hajime Takata, dirigente do Banco Central japonês, afirmou que, se a inflação continuar controlada e as tendências econômicas forem positivas, o país pode continuar elevando seus juros. As operações de carry trade com o iene, que envolvem o uso de moedas de países com juros baixos para financiar investimentos em mercados emergentes, representam um risco significativo para o Brasil e outros países emergentes.
Se o Japão elevar seus juros de forma mais agressiva, isso pode desencadear uma fuga de capitais dos mercados emergentes, pressionando ainda mais o real e os ativos brasileiros.
Expectativas para o Payroll de Agosto
Hoje, todas as atenções estão voltadas para o relatório de empregos dos Estados Unidos. O mercado espera que o Payroll de agosto mostre a criação de 165 mil vagas, com uma leve queda na taxa de desemprego, de 4,3% para 4,2%. No entanto, existe uma grande amplitude nas projeções, e fatores sazonais, como demissões temporárias e condições climáticas adversas, podem influenciar o resultado final.
Se o Payroll vier abaixo do esperado, os mercados podem interpretar isso como um sinal de desaceleração mais acentuada da economia americana, o que poderia levar o Fed a adotar medidas mais drásticas de afrouxamento monetário. Por outro lado, se os dados forem mais robustos, o cenário base de cortes graduais de juros deve se manter.
Considerações
A véspera do Payroll de agosto trouxe um cenário misto para os mercados globais e brasileiro. Enquanto o mercado de trabalho americano mostra sinais de fraqueza, outros indicadores, como o setor de serviços, permanecem fortes. No Brasil, a desvalorização do dólar e a queda nos juros trouxeram alívio, mas o cenário fiscal e a balança comercial continuam preocupando. O resultado do Payroll será crucial para definir os próximos passos das políticas monetárias e o rumo dos mercados nos próximos meses.
Encerramos o Mercados em Foco edição 06/09/2024. Desejando a todos um bom dia e bons negócios.