No “Mercados em Foco” de hoje, trazemos um resumo das últimas notícias e insights que impactaram os mercados globais e brasileiro. O relatório JOLTS, que mede o número de vagas e a rotatividade da mão de obra nos Estados Unidos, apresentou novos indícios de enfraquecimento no mercado de trabalho. Embora a divulgação deste dado seja defasada em cerca de um mês, os números de julho revelaram uma abertura de vagas 400 mil menor do que o esperado. Além disso, os dados anteriores foram revisados para baixo, em quase 300 mil, reforçando a percepção de enfraquecimento. Mercados em Foco edição 05/09/2024.
Este resultado surpreendeu, marcando o menor nível de vagas desde janeiro de 2021. Com isso, surgiram expectativas mais modestas para o payroll de agosto, que será divulgado na sexta-feira. A prioridade atual do Federal Reserve (Fed) é o comportamento do mercado de trabalho, o que ampliou as apostas em um possível corte de 50 pontos-base na taxa de juros em setembro.
Expectativas Divididas e Impactos no Mercado
O mercado está dividido quanto ao futuro da política monetária, mas as chances de um corte de 25 pontos-base continuam sendo predominantes. Em resposta a esses números fracos, o dólar perdeu força e os títulos do Tesouro dos EUA (treasuries) registraram quedas acentuadas. O rendimento dos títulos de dois anos caiu para níveis abaixo dos de dez anos pela segunda vez desde 2022.
Esse movimento de reversão da curva de rendimentos é frequentemente considerado um sinal importante de recessão iminente. Outro aspecto interessante é o comportamento das bolsas de valores, que, apesar do enfraquecimento do mercado de trabalho, não sofreram quedas expressivas. De maneira geral, os índices se mantiveram estáveis, surpreendendo os analistas.
O Relatório JOLTS: Um Indicador Defasado
É importante ressaltar que o relatório JOLTS está defasado, e a real situação do mercado de trabalho só será totalmente compreendida após a divulgação do payroll de agosto. Esse dado será o verdadeiro termômetro da economia americana e definirá o ritmo de possíveis cortes na taxa de juros.
O presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, afirmou que, apesar do enfraquecimento observado, o mercado de trabalho ainda apresenta saúde. O Livro Bege também corrobora essa visão, indicando que o nível de emprego nas últimas semanas se manteve estável ou registrou crescimento moderado.
Reflexos no Mercado Brasileiro
No Brasil, o cenário externo, combinado com uma melhora na percepção de risco fiscal, contribuiu para a queda das taxas de juros de forma generalizada. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reforçou o compromisso do governo com a meta fiscal e informou que o presidente Lula autorizou a equipe econômica a revisar o auxílio gás. A entrevista do secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, ao jornal Valor Econômico também trouxe otimismo. Ele destacou que o relatório bimestral de receitas e despesas, previsto para o dia 23, será o mais relevante do ano. Ceron reafirmou que a meta de déficit zero para 2024 será mantida e cumprida.
O desempenho da indústria brasileira em julho, que registrou uma queda de 1,4%, também impactou o cenário de juros. Apesar da retração, a expectativa de crescimento industrial robusto ao longo do ano permanece inalterada.
Moeda e Bolsa de Valores
Na moeda, o real não acompanhou o otimismo visto em outros ativos e permaneceu em R$ 5,64, encerrando o dia praticamente estável frente ao dólar. Por outro lado, a bolsa brasileira, representada pelo Ibovespa, apresentou uma alta de 1,3%. As ações ligadas ao setor de juros lideraram os ganhos, enquanto as commodities ficaram para trás.
O crescimento econômico da China tem gerado preocupação, pois as projeções de seu PIB estão sendo revisadas para baixo. Isso afetou diretamente o preço do petróleo, que vem caindo devido às expectativas de aumento da oferta e queda na demanda. A sessão de ontem registrou nova queda, com o petróleo atingindo seu menor nível desde dezembro. Caso os preços se estabilizem nesses patamares, é possível que vejamos uma redução nos preços dos combustíveis, o que poderia aliviar a inflação no Brasil.
Por outro lado, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, afirmou que não há expectativa de redução no preço dos combustíveis, ressaltando que a estatal se sente confortável com os níveis atuais.
Energia Elétrica e IPCA
Outro aspecto relevante foi a confirmação de um erro no modelo de cálculo tarifário da energia elétrica. A bandeira tarifária correta seria a vermelha patamar 1, e não o patamar 2, como anunciado anteriormente. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) corrigiu o erro, e a projeção de fechamento da inflação (IPCA) para o ano caiu para 4,4%.
Brasília e a Indicação de Galípolo
Em Brasília, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, anunciou que a votação da indicação de Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central ocorrerá no dia 8 de outubro, após o primeiro turno das eleições. O presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), Wanderlán Cardoso, definirá a data da sabatina no colegiado.
Expectativas para o Tesouro e Dados dos EUA
Ainda no Brasil, o Tesouro Nacional divulgará hoje o resultado primário do governo em julho, com uma expectativa de déficit de aproximadamente R$ 9 bilhões. Isso representa uma melhora em relação ao déficit de R$ 40 bilhões registrado no mês anterior, mas os desafios fiscais permanecem grandes.
Nos Estados Unidos, os dados mais aguardados são os de emprego referentes a agosto, juntamente com os índices de atividade como o PMI e o ISM. Estes números poderão oferecer um panorama mais claro sobre a saúde econômica do país e as futuras decisões de política monetária do Fed.
Considerações
O mercado de trabalho dos EUA continua sendo um dos principais focos de atenção dos investidores e autoridades monetárias. Embora o relatório JOLTS tenha mostrado sinais de enfraquecimento, ele está defasado. O real teste será com o payroll de agosto, que poderá trazer mais clareza sobre a situação econômica americana e determinar os próximos passos do Fed. No Brasil, a combinação de fatores externos e a melhora na percepção fiscal têm impulsionado os mercados, mas os desafios econômicos continuam no radar.
Encerramos o Mercados em Foco edição 05/09/2024. Desejando a todos um bom dia e bons negócios.