No “Mercados em Foco” de hoje, trazemos um resumo das últimas notícias e insights que impactaram os mercados globais e brasileiro. A semana passada foi marcada por uma série de eventos que indicam que a economia dos Estados Unidos pode estar entrando em um ponto de inflexão crucial. Até então, a narrativa predominante nos mercados era que o crescimento robusto observado no período pós-pandemia havia se transformado em uma expansão mais modesta, mas ainda saudável. A queda na inflação e o equilíbrio no mercado de trabalho, componentes do famoso mandato duplo do Federal Reserve (FED), vinham sendo vistos com otimismo, sugerindo a possibilidade de um “pouso suave” da economia, mesmo em meio a taxas de juros elevadas. No entanto, dados recentes apontam para uma realidade diferente, o que está gerando discussões sobre o futuro da política monetária dos EUA e seus impactos globais. Mercados em Foco edição 05/08/2024.
Super Quarta: Decisões de Política Monetária nos EUA, Brasil e Japão
A semana passada começou com grande expectativa em torno da Super Quarta, um dia marcado por decisões de política monetária em três das maiores economias do mundo: Estados Unidos, Brasil e Japão. A expectativa era de que o FED mantivesse sua postura, dada a resiliência que a economia norte-americana havia mostrado até então. No entanto, dados de atividade e, principalmente, de emprego começaram a sinalizar que essa desaceleração econômica pode ser mais pronunciada e estrutural do que se imaginava.
O relatório de empregos, conhecido como payroll, mostrou a criação de apenas 114 mil vagas em julho, muito abaixo das expectativas do mercado, que esperava cerca de 175 mil. Além disso, o número de empregos criados no mês anterior foi revisado para baixo, reforçando a ideia de uma desaceleração mais acentuada. Outro dado preocupante foi a taxa de desemprego, que subiu de 4,1% para 4,3%, contrariando as expectativas de estabilidade.
Indicadores de Recessão: Um Sinal de Alerta
Um dos indicadores mais observados pelos analistas para prever recessões nos Estados Unidos é a média móvel de três meses da taxa de desemprego. Quando essa média aumenta em 0,5 ponto percentual ou mais em relação ao mínimo das médias dos 12 meses anteriores, o indicador sinaliza o início de uma recessão. E foi exatamente isso que aconteceu na semana passada, confirmando o que muitos já temiam: a economia norte-americana pode estar à beira de uma recessão.
Esses dados mudaram rapidamente a narrativa sobre o que o FED deveria fazer a seguir. Agora, o mercado antecipa uma redução acumulada de 115 pontos base nas taxas de juros nas próximas três reuniões, com um corte de 50 pontos base sendo mais provável para setembro e novembro. Esse cenário de aversão ao risco levou a quedas nas bolsas de valores, nas commodities e nas moedas de mercados emergentes.
Implicações Políticas: A Dinâmica Eleitoral em Jogo
Uma possível recessão durante o mandato de um presidente democrata, como Joe Biden, pode ter implicações significativas na dinâmica eleitoral dos Estados Unidos. A economia sempre desempenha um papel central nas eleições presidenciais, e uma desaceleração econômica ou uma recessão pode afetar negativamente as chances de reeleição de Biden em 2024. É importante lembrar que, em seu último mandato, Donald Trump entregou uma economia em crescimento robusto, o que foi um trunfo importante em sua campanha.
Esse cenário coloca ainda mais pressão sobre o FED e sobre a administração Biden. Eles precisarão encontrar maneiras de mitigar os impactos de uma possível recessão e, ao mesmo tempo, lidar com os desafios estruturais que a economia norte-americana enfrenta. A questão agora é se a desaceleração será moderada ou se o país está prestes a enfrentar uma recessão profunda.
Economia Brasileira: Surpresas Positivas em Meio à Incerteza Global
Enquanto a economia dos Estados Unidos enfrenta desafios crescentes, a economia brasileira segue surpreendendo positivamente. Em junho, o mercado de trabalho brasileiro apresentou uma nova melhora, com a criação de empregos superando as expectativas. Além disso, a indústria mostrou sinais de recuperação, com dados melhores do que os previstos pelos analistas.
O grande destaque da agenda econômica no Brasil é a divulgação da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na terça-feira. Na reunião anterior, a mensagem passada foi mais dovish do que o esperado, indicando que o ciclo de altas pode estar chegando ao fim. No entanto, o balanço de riscos, que antes era considerado simétrico, agora apresenta mais riscos altistas, o que pode influenciar futuras decisões de política monetária.
Outro evento importante é a divulgação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de julho, na sexta-feira. A expectativa é de uma alta de 0,33%, o que levaria o acumulado em 12 meses para 4,45%, próximo do teto da meta de inflação. Os preços dos serviços e dos itens administrados, como energia elétrica e combustíveis, devem continuar pressionando a inflação. Entretanto, a deflação nos preços dos alimentos e a sazonalidade favorável nos bens industriais podem oferecer algum alívio.
Cenário Global: Estados Unidos, China e os Reflexos para o Brasil
Na China, analistas acompanharão de perto os dados de inflação previstos para quinta-feira. Espera-se que os preços ao consumidor aumentem 0,3% ao ano em julho, impulsionados pelos preços dos produtos agrícolas e da carne suína. No entanto, os preços ao produtor podem ter caído a um ritmo mais rápido, devido à queda nos preços das commodities e a um efeito base menos favorável.
Esses dados são particularmente relevantes para o Brasil, dado que a China é o principal parceiro comercial do país. Uma desaceleração na demanda chinesa pode impactar negativamente as exportações brasileiras, especialmente de commodities como minério de ferro e soja.
Considerações: Incertezas e Oportunidades
A semana passada trouxe à tona a possibilidade de estarmos em um ponto de inflexão importante na economia dos Estados Unidos, com implicações que vão muito além das fronteiras do país. A mudança na narrativa sobre o que o FED deve fazer nas próximas reuniões reflete a crescente incerteza sobre o futuro da economia global. Ao mesmo tempo, a economia brasileira continua a surpreender positivamente, mas também enfrenta desafios em meio a um cenário internacional volátil.
As decisões de política econômica serão cruciais para determinar o rumo das economias ao redor do mundo. Para os investidores e formuladores de políticas, a chave será manter a flexibilidade e estar preparado para responder rapidamente às mudanças nas condições econômicas. Acompanhar de perto esses desenvolvimentos será essencial para navegar nesse ambiente desafiador e identificar as oportunidades que podem surgir em meio à incerteza.
Encerramos o Mercados em Foco edição 05/08/2024. Desejando a todos um bom dia e bons negócios.