No “Mercados em Foco” de hoje, trazemos um resumo das últimas notícias e insights que impactaram os mercados globais e brasileiro. A economia brasileira continua a surpreender positivamente, superando as expectativas dos analistas e demonstrando resiliência em meio a desafios. No segundo trimestre de 2024, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil registrou um crescimento impressionante de 1,4%, acima do teto das previsões de mercado. Este resultado reflete uma economia que, apesar de adversidades como as enchentes no Rio Grande do Sul, mantém seu vigor e capacidade de expansão. Mercados em Foco edição 04/09/2024.
Crescimento Impulsionado pelos Serviços e Indústria
Do lado da oferta, a maior parte dos setores econômicos apresentou crescimento, com exceção da agropecuária, que enfrentou desafios específicos. O setor de serviços, que possui o maior peso na economia brasileira, cresceu 1%, impulsionado por todas as suas subdivisões. Este crescimento é significativo, dado que os serviços representam uma parcela considerável do PIB nacional e têm um papel central na geração de emprego e renda.
A indústria, por sua vez, surpreendeu positivamente. O setor industrial foi beneficiado por uma recuperação mais robusta, especialmente no setor de transformação. Esta recuperação indica que a indústria brasileira está conseguindo superar os desafios impostos pela pandemia e por crises anteriores, voltando a se posicionar como um dos pilares do crescimento econômico.
Demanda Interna Aquecida e Investimentos em Alta
No lado da demanda, o cenário também é positivo. A economia brasileira segue aquecida, com o ambiente privado interno demonstrando continuidade na expansão. Os investimentos cresceram 2,1% no segundo trimestre, refletindo a confiança dos empresários e investidores na recuperação econômica do país. Tanto o consumo das famílias quanto o consumo do governo avançaram 1,3%, o que demonstra que a demanda interna permanece sólida.
No entanto, o setor externo apresentou uma contribuição negativa para o PIB, refletindo o aumento das importações. Este dado é importante, pois mostra que, apesar do crescimento interno, o Brasil ainda depende significativamente de produtos e serviços importados, o que pode impactar negativamente a balança comercial e a sustentabilidade do crescimento a longo prazo.
Revisão dos Trimestres Anteriores e Projeções Futuras
Além do forte desempenho no segundo trimestre, os dois trimestres anteriores também foram revisados para cima. O último trimestre de 2023, que inicialmente havia sido reportado como negativo, foi ajustado para mostrar um crescimento positivo. Revisaram o crescimento do primeiro trimestre de 2024, de 0,8% para 1%.
Com base nos dados atuais e na resiliência demonstrada pela economia, as projeções de crescimento do PIB para 2024 foram revisadas de 2,5% para 3%. Esta revisão reflete a expectativa de que o Brasil continuará a crescer a um ritmo sólido, impulsionado pela demanda interna e pela recuperação de setores estratégicos.
Desafios para o Banco Central e Pressões Inflacionárias
Apesar das boas notícias no front econômico, o crescimento mais forte do que o esperado traz desafios adicionais para o Banco Central. Com a atividade econômica aquecida, aumentam as pressões inflacionárias, o que pode forçar o Banco Central a adotar uma postura mais agressiva em relação às taxas de juros. A combinação de crescimento robusto e inflação em alta é uma equação difícil de equilibrar, especialmente em um contexto de incertezas fiscais.
O mercado já começou a reagir a essa perspectiva, com os juros curtos subindo. No entanto, a curva de juros perdeu inclinação a partir do miolo, refletindo a incerteza quanto às próximas ações do Banco Central e à evolução do cenário econômico.
Impacto no Mercado de Ações e Moeda
No mercado de ações, a reação ao forte desempenho econômico foi mista. Inicialmente, as ações cíclicas, que tendem a se beneficiar em períodos de crescimento econômico, mostraram entusiasmo. No entanto, o otimismo durou pouco. A queda dos preços das commodities, como minério de ferro e petróleo, devido ao aumento da oferta na Líbia e à perspectiva de uma recuperação mais lenta na Ásia, pesou sobre as ações de grandes empresas brasileiras como Vale e Petrobras. Como resultado, o Ibovespa registrou sua quarta sessão consecutiva de queda.
No mercado de câmbio, o real também enfrentou desafios. Após dois dias de intervenção do Banco Central, ontem a instituição optou por não atuar. Em linha com a desvalorização das moedas de outros mercados emergentes e o aumento do sentimento de risco global, o real fechou o dia cotado a 5,64 contra o dólar, refletindo a volatilidade e a incerteza que ainda pairam sobre o cenário econômico global.
Desafios Políticos e a Indicação de Gabriel Galípolo
Em Brasília, a nomeação de Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central continua a gerar discussões. O líder do governo no Senado, Jax Wagner, confirmou que será o relator da indicação de Galípolo. No entanto, a data para a sabatina ainda não foi definida, em parte devido ao período eleitoral. O presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), Wanderlán Cardoso, sugeriu que a sabatina ocorra após o primeiro turno das eleições municipais, marcado para 6 de outubro.
Além disso, há a expectativa de que Galípolo faça uma visita ao Senado para esclarecer dúvidas dos parlamentares. Esta visita pode ser fundamental para garantir sua aprovação e para delinear as prioridades de sua gestão à frente do Banco Central.
Cenário Econômico Internacional: Estados Unidos em Foco
Enquanto o Brasil celebra seu crescimento econômico, o cenário nos Estados Unidos é bem diferente. A economia norte-americana mostrou sinais de fraqueza, com indicadores como o PMI e o ISM industrial de agosto vindo abaixo das expectativas. Além disso, os investimentos em construção em julho contraíram, o que agrava as preocupações em um setor que já enfrenta desafios estruturais significativos.
A proximidade da divulgação do relatório de empregos (payroll) na sexta-feira aumentou a atenção sobre esses dados. A reação do mercado foi imediata, com os rendimentos dos títulos do Tesouro (treasuries) caindo, e as apostas sobre a possibilidade de um corte na próxima reunião do Federal Reserve ficando mais divididas.
No mercado de câmbio, o dólar teve uma sessão volátil, mas encerrou o dia com leve alta em relação às principais moedas globais. Já no mercado de ações, as principais bolsas dos Estados Unidos fecharam em queda, pressionadas pela notícia de que as vendas totais de semicondutores caíram 11% em julho, conforme divulgado pelo UBS. Essa queda afetou as ações das principais fabricantes de chips, contribuindo para o pessimismo no mercado.
Expectativas para o Futuro e Dados Econômicos Relevantes
Para hoje, a agenda econômica traz dois destaques importantes. Nos Estados Unidos, o Federal Reserve divulgará o Livro Bege (Beige Book), que apresenta uma visão atualizada sobre a economia, baseada em dados regionais e empresariais. Este relatório é acompanhado de perto pelos mercados, pois oferece insights sobre a direção futura da política monetária dos EUA.
No Brasil, serão divulgados os dados da produção industrial de julho. Após uma alta significativa de mais de 4% nos meses anteriores, a expectativa é de um recuo de 0,9%. Mesmo assim, a indústria deve permanecer em um patamar elevado em comparação aos últimos anos. Se essa previsão se confirmar, a alta anual contra o mesmo mês do ano passado será de 6,9%, o que reforça a recuperação do setor industrial brasileiro.
Considerações
A atividade econômica brasileira segue surpreendendo positivamente, com um crescimento robusto e acima das expectativas. No entanto, este cenário traz desafios adicionais, especialmente no que se refere ao controle da inflação e à condução da política monetária. Além disso, o cenário político, com a indicação de Gabriel Galípolo para o Banco Central, e o cenário internacional, com sinais de fraqueza nos Estados Unidos, adicionam camadas de complexidade ao ambiente econômico.
À medida que nos aproximamos do final do ano, será crucial acompanhar de perto a evolução desses fatores e suas implicações para a economia brasileira em 2024. O país continua a demonstrar resiliência, mas a cautela permanece essencial em um cenário global incerto e cheio de desafios.
Encerramos o Mercados em Foco edição 04/09/2024. Desejando a todos um bom dia e bons negócios.