No “Mercados em Foco” de hoje, trazemos um resumo das últimas notícias e insights que impactaram os mercados globais e brasileiro. Agosto chegou ao fim com a promessa de um desfecho positivo, mas, como muitos temiam, a última semana do mês trouxe surpresas desagradáveis. Os mercados financeiros, que vinham ensaiando uma recuperação, foram novamente abalados por uma combinação de fatores internos e externos, levando a uma onda de incertezas que minou a confiança dos investidores. Mercados em Foco edição 02/09/2024.
A desvalorização do real foi um dos principais temas que dominaram a reta final do mês. A moeda brasileira flertou perigosamente com a marca dos R$ 5,70, em meio a um cenário de valorização do dólar e desempenho fraco das commodities. A situação foi agravada por incertezas internas, forçando o Banco Central a intervir para evitar a falta de liquidez nos mercados cambiais. Em uma tentativa de conter a volatilidade, a autoridade monetária vendeu US$ 1 bilhão no mercado à vista e outros US$ 735 milhões em swaps cambiais. E, mesmo assim, mais intervenções estavam previstas para os dias seguintes.
Gabriel Galípolo e o Novo Capítulo no Banco Central
A nomeação de Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central, confirmada pelo presidente Lula, também causou apreensão no mercado. Galípolo, atual diretor de política monetária e nome de confiança do governo, deve assumir o comando da instituição no próximo ano. Embora ele tenha demonstrado um perfil técnico e comprometido com a convergência da inflação, o mercado teme uma possível interferência política em sua gestão. Até janeiro, há muito chão pela frente, e o atual presidente, Campos Neto, parece estar lutando para ajustar a comunicação e ancorar as expectativas.
A incerteza em torno do cenário fiscal também adiciona mais pressão ao cenário econômico. Na última sexta-feira de agosto, o governo enviou ao Congresso o projeto de orçamento para 2025. O documento trouxe as principais diretrizes para o próximo ano, incluindo uma meta de resultado primário zero, aumento real do salário mínimo e valores destinados ao cumprimento dos pisos constitucionais. Contudo, a interpretação predominante entre os economistas é de que o próximo ano pode repetir os desafios de 2024, com receitas superestimadas e despesas subestimadas. O governo prometeu detalhar o projeto em uma coletiva de imprensa.
Desafios Fiscais e a Persistência da Inflação
O mercado continua aguardando resoluções mais claras sobre o cenário fiscal, enquanto as incertezas permanecem elevadas. As contas públicas mostraram um déficit primário maior do que o esperado em julho, um sinal preocupante para o equilíbrio fiscal do país. No front inflacionário, apesar de o IPCA-15 de agosto ter mostrado um resultado qualitativo melhor do que o esperado, a média anualizada dos últimos meses indica uma deterioração disseminada da inflação.
Este cenário desafiador tende a persistir até o final do ano, e a situação se agrava com a recente decisão da Aneel de acionar a bandeira tarifária vermelha, patamar 2, para setembro. A medida foi impulsionada pela seca, que elevou as temperaturas, ativou usinas térmicas e encareceu o custo da eletricidade. Essa mudança adiciona cerca de 30 pontos-base ao IPCA de setembro, o que leva a projeção de inflação para 2024 a 4,5%, muito próximo do teto da meta.
Mercado de Trabalho e Atividade Econômica
No entanto, nem tudo são más notícias. O mercado de trabalho brasileiro continuou mostrando robustez em julho, conforme os dados do Caged. A taxa de desemprego, medida pela PNAD, caiu para 6,7% com ajuste sazonal, o melhor resultado desde março de 2024 e abaixo da taxa de desemprego não inflacionária (NAIRU). Além disso, os rendimentos se estabilizaram em níveis elevados, o que, paradoxalmente, não contribuiu tanto para a redução das taxas de juros.
A maré positiva também alcançou o Ibovespa, que se aproximou de seu recorde e conseguiu fechar, pela primeira vez, acima dos 137 mil pontos na semana passada. A resiliência da economia brasileira sustentou esse movimento, superando as expectativas.
Cenário Internacional: Expectativas de Flexibilização pelo FED
Nos Estados Unidos, os indicadores econômicos reforçaram a expectativa de que o Federal Reserve (FED) iniciará uma flexibilização gradual da política monetária a partir de setembro. O mercado espera seis cortes consecutivos de 0,25%, um movimento sustentado pelo bom desempenho da economia americana, especialmente pelo aumento nos gastos de consumo das famílias. Ao mesmo tempo, a inflação continuou a desacelerar, como indicado pelo deflator do PCI e seu núcleo.
Como resultado, os Treasuries mantiveram-se estáveis nos prazos mais curtos e subiram nos prazos mais longos, enquanto o dólar se recuperou frente às principais moedas. No entanto, o desempenho do mercado de ações foi fraco, especialmente no setor de energia, devido ao impacto negativo dos resultados da Nvidia.
O Que Esperar para a Próxima Semana
O detalhamento do orçamento para o próximo ano, que será divulgado ainda hoje, é aguardado com grande expectativa. No Brasil, o destaque será a divulgação do PIB do segundo trimestre, previsto para amanhã. Apesar das tragédias climáticas no Rio Grande do Sul, o impacto foi menor do que o inicialmente previsto, e a atividade econômica continua superando as expectativas. A projeção é de um crescimento de 0,9% no trimestre.
Além disso, o IBGE divulgará os dados da indústria de julho. Após uma alta de mais de 4% em junho, espera-se um recuo de 0,9% em julho, embora o setor deva permanecer em um patamar elevado em comparação aos últimos anos. A alta anualizada contra o mesmo mês do ano passado deve ser de 6,9%.
Nos Estados Unidos, o grande destaque será o relatório de emprego de agosto, considerado um indicador-chave para avaliar o momento e o ritmo dos cortes de juros pelo FED. A média das estimativas do mercado aponta para a criação de 160 mil empregos, o que resultaria em uma ligeira queda na taxa de desemprego, de 4,3% para 4,2%. No entanto, as projeções variam amplamente, e há grandes chances de que fatores sazonais distorçam o resultado, exigindo cautela na interpretação dos números.
Considerações
Em resumo, agosto foi um mês de muitas surpresas, e a última semana deixou claro o motivo pelo qual este mês é tão temido nos mercados financeiros. As incertezas permanecem, tanto no Brasil quanto no exterior, e os desafios à frente exigem cautela dos investidores. Desse modo, o cenário fiscal brasileiro, a volatilidade do real e as expectativas em torno da política monetária global continuarão sendo os principais pontos de atenção no curto prazo. Resta saber como os mercados reagirão às próximas revelações e se a maré de volatilidade finalmente dará lugar a um período de maior estabilidade.
Encerramos o Mercados em Foco edição 02/09/2024. Desejando a todos um bom dia e bons negócios.