Mercados em Foco edição 02/07/2024

No “Mercados em Foco” de hoje, trazemos um resumo das últimas notícias e insights que impactaram os mercados globais e brasileiro. A recente alta do dólar, que alcançou R$5,68 na máxima de ontem, trouxe novamente à tona a discussão sobre os desafios econômicos enfrentados pelo Brasil. Este fenômeno não é isolado, pois os pares emergentes também registraram perdas. No entanto, o Brasil parece estar contribuindo mais intensamente para essa escalada cambial. A máxima de que apenas o dólar sensibilizaria Brasília parece não se aplicar completamente à atual conjuntura. Embora esse nível do dólar esteja gerando preocupações, o diagnóstico completo do problema ainda está longe de ser unanimemente aceito. Mercados em Foco edição 02/07/2024.

A Perspectiva do Governo e do Mercado

O governo brasileiro continua a acreditar que os receios do mercado, que impulsionam a valorização da moeda americana, não são justificados. Entretanto, o Banco Central e o mercado financeiro pessimista continuam sendo apontados como os responsáveis pela desvalorização do real. Essa pecha, de certa forma, já faz parte do cotidiano do mercado financeiro brasileiro.

A Questão dos Fundamentos Econômicos

Se os fundamentos econômicos do Brasil fossem realmente melhores do que o mercado está precificando, haveria um incentivo natural para o próprio mercado apostar a favor do real. No entanto, as atitudes do governo reforçam uma postura cautelosa do mercado financeiro. A âncora fiscal brasileira tem sido testada continuamente nos últimos anos, mas agora surgem também dúvidas sobre a âncora monetária.

Em outras palavras, não são apenas as contas públicas que estão sob escrutínio, mas também a gestão das taxas de juros do país. Essa incerteza afeta a percepção dos investidores estrangeiros, que historicamente se mostraram menos preocupados com o fiscal do Brasil do que os investidores locais. Afinal, a má gestão fiscal é um fenômeno global e agravou-se com a pandemia de COVID-19. Contudo, ao olhar para um país emergente como o Brasil, esses investidores buscam um retorno que compense os riscos. A ameaça de interferência na política monetária aumenta a probabilidade de retirada desses investimentos.

A Moderação do Câmbio e os Gastos Públicos

Para que ocorra uma moderação do câmbio, é necessário, em primeiro lugar, um tom mais moderado e uma política de gastos públicos mais prudente. Sem essas mudanças, resta apenas torcer para que as taxas de juros globais caiam mais rápido e intensamente do que o esperado, algo que ainda não é uma certeza entre os banqueiros centrais.

O Impacto dos Juros

Sobre a questão dos juros, há dois pontos importantes a serem considerados. O primeiro é a situação interna. Se houvesse uma reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) hoje, o risco de alta da Selic seria considerado. A desvalorização recente do câmbio, que levou o dólar a R$5,68, já elevou a estimativa de inflação para 2025 para 3,4%, acima da meta de 3%. Com a desvalorização adicional dos últimos dias, essa projeção poderia aumentar para 3,6%, afetando até mesmo as metas para 2026.

Portanto, o que antes parecia um exagero na curva de juros de curto prazo no Brasil, agora pode ser visto como uma precaução razoável. O segundo ponto envolve o cenário internacional. O Fórum de Sintra, em Portugal, promovido pelo Banco Central Europeu, reúne diversos banqueiros centrais e acadêmicos para discutir a política monetária. Entre os participantes está Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central do Brasil, que divide o palco com Christine Lagarde, presidente do BCE, e Jerome Powell, presidente do FED.

A Cautela dos Bancos Centrais Globais

Os bancos centrais mais importantes do mundo têm adotado uma postura cautelosa, evitando dar grandes indicações sobre suas próximas ações. Roberto Campos Neto enfrenta uma crise de confiança, enquanto Lagarde lida com novas incertezas políticas na França. Já Powell ainda não tem clareza sobre a trajetória da inflação nos Estados Unidos, dado o vigor da economia americana. Essa cautela global contribui para uma desaceleração na queda dos juros internacionais, o que não favorece o cenário econômico brasileiro.

Considerações

O Brasil enfrenta um momento delicado, onde a alta do dólar reflete não apenas fatores externos, mas também incertezas internas. A confiança na gestão econômica é crucial para atrair e manter investimentos, e a percepção de risco pode afastar o capital estrangeiro. A moderação nos gastos públicos e uma comunicação clara e prudente por parte do governo são passos fundamentais para reverter essa tendência e estabilizar a moeda.

Enquanto isso, os investidores e o mercado financeiro continuarão atentos às movimentações do Banco Central e às sinalizações dos bancos centrais globais. A estabilidade econômica do Brasil depende de uma combinação de fatores internos e externos, e o caminho para a recuperação passa por uma gestão fiscal e monetária responsável e transparente.

Encerramos o Mercados em Foco edição 02/07/2024. Desejando a todos um bom dia e bons negócios.

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