No “Mercados em Foco” de hoje, trazemos um resumo das últimas notícias e insights que impactaram os mercados globais e brasileiro. Ontem, o mercado financeiro esteve atento ao discurso do presidente do Fed, Jeremy Powell. A fala de Powell trouxe cautela, frustrando os que esperavam uma postura mais agressiva em relação à flexibilização monetária. Ele enfatizou que o Fed não está com pressa para cortar as taxas de juros, destacando que, “se a economia evoluir como esperado, esperamos mais dois cortes de 25 pontos-base ainda este ano”. Mercados em Foco edição 01/10/2024.
Essa mensagem não foi bem recebida por investidores que aguardavam uma redução mais rápida nos juros. Powell mostrou uma postura paciente, refletindo a preocupação do Fed em monitorar a evolução econômica antes de tomar decisões drásticas. O discurso do presidente veio após outros diretores do Fed, que, em geral, adotaram um tom mais “dovish”, sugerindo uma tendência de menos juros.
Divergências Entre Diretores do Fed
Alguns diretores do Fed, como Austan Goolsbee, de Chicago, expressaram preocupações. Goolsbee tem receio de reduzir muito os juros, indicando que o cenário econômico ainda é incerto. Em contraste, Rafael Bosch, de Atlanta, mais conservador, mostrou-se favorável a um corte de 50 pontos-base, caso o mercado de trabalho enfraqueça mais do que o esperado.
Por outro lado, Michelle Bowman se mantém firme em sua posição dissidente. Ela acredita que ainda existem riscos significativos para a estabilidade dos preços. Bowman destaca que o controle da inflação é essencial para garantir o máximo emprego no longo prazo.
A comunicação entre os membros do Fed mostra divergências internas sobre a direção da política monetária. Essa divisão evidencia a complexidade do cenário econômico atual. A maioria dos membros parece estar migrando para uma postura mais favorável a cortes maiores, mas ainda existe cautela.
Expectativas para os Dados Econômicos da Semana
A mensagem de Powell, de que mais dois cortes de 25 pontos-base podem ocorrer até o fim do ano, trouxe foco para os dados econômicos desta semana. O relatório de empregos (payroll), previsto para sexta-feira, ganha ainda mais relevância nesse contexto. O mercado de trabalho tem sido o principal indicador monitorado pelo Fed para decisões futuras.
Historicamente, o Fed raramente diverge do gráfico de pontos no curto prazo. No entanto, os investidores estão atentos a qualquer sinal de mudança nas previsões. No final do dia, os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA (Treasurys) subiram, enquanto o CME indicou mais de 60% de chances de um corte de 50 pontos-base em novembro, algo que antes era considerado improvável.
Reação dos Mercados: Bolsas e Moedas
Com a perspectiva de juros mais altos, o dólar se fortaleceu contra a maioria das moedas globais. As bolsas norte-americanas, no entanto, surpreenderam e encerraram o dia em alta. Tanto o Dow Jones quanto o S&P 500 renovaram seus recordes de fechamento, apesar da aversão ao risco presente no cenário global.
Enquanto isso, no Brasil, o foco esteve na divulgação do resultado fiscal do setor público referente a agosto. Mesmo com uma arrecadação positiva e a recuperação dos estados e municípios, o Brasil registrou um déficit de quase R$ 21,5 bilhões. Apesar do valor elevado, esse foi o melhor resultado fiscal em três anos.
Cenário Fiscal no Brasil
Nos últimos 12 meses, o déficit fiscal acumulado no Brasil chegou a R$ 256 bilhões, representando 2,3% do PIB. Esse número ressalta a necessidade de novas medidas fiscais para alcançar a meta de superávit primário. O risco fiscal permanece uma preocupação para o mercado, com os juros internos (DIs) em alta, tendência que se intensificou devido ao cenário externo de maior pressão por juros.
Na moeda, o real, mesmo com volatilidade e ajustes de fim de mês e trimestre, desvalorizou pouco em relação ao dólar. Apesar disso, o real valorizou mais de 3% em setembro, o que demonstra uma certa resiliência da moeda brasileira diante das adversidades externas.
Ibovespa: Impactos Internos e Externos
O Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, não teve a mesma sorte que os mercados norte-americanos. A aversão ao risco prevaleceu e o índice terminou o pregão na mínima. Nem mesmo o estímulo econômico anunciado pela China, que impulsionou um rali em Xangai – o maior desde 2008 –, conseguiu barrar o pessimismo no mercado brasileiro.
O mês de setembro não foi amigável para o Ibovespa. O índice começou o mês nas máximas históricas, mas encerrou o período com uma queda acumulada de 3%. O mau humor no cenário doméstico e a incerteza no cenário global contribuíram para esse desempenho negativo.
Perspectivas na Zona do Euro
A agenda econômica de hoje tem poucos destaques, mas os olhares se voltam para a inflação na Zona do Euro. A expectativa é de que o índice de preços ao consumidor acumulado em 12 meses caia para 1,9%, abaixo da meta do Banco Central Europeu pela primeira vez desde 2021.
Embora essa seja uma notícia positiva, quando analisamos as medidas subjacentes, que excluem itens voláteis, como alimentos e energia, os serviços ainda mostram pressões inflacionárias significativas. Isso pode dificultar um alívio maior por parte da política monetária europeia.
Dados Econômicos nos EUA
Nos Estados Unidos, os dados de emprego também ganham destaque com o relatório JOLTS de agosto. Embora defasado em um mês, o relatório é monitorado de perto pelos investidores. A mediana das expectativas é de 7.700 vagas de emprego em aberto, o que poderia indicar uma desaceleração no mercado de trabalho.
Além disso, serão divulgados os índices PMI e ISM do setor industrial dos EUA. Esses indicadores devem mostrar estabilidade em torno de 47 pontos, o que indica contração no setor manufatureiro.
Considerações
O discurso de Jeremy Powell trouxe cautela ao mercado, reforçando a mensagem de que o Fed não está com pressa para cortar os juros de forma agressiva. As divergências entre os diretores do Fed mostram que o futuro da política monetária ainda é incerto, com uma parte do comitê favorecendo cortes maiores e outra mantendo uma postura mais conservadora.
No Brasil, o cenário fiscal continua desafiador, com um déficit elevado que exige novas medidas para alcançar o equilíbrio fiscal. A valorização do real em setembro foi um ponto positivo, mas o desempenho da bolsa brasileira reflete o mau humor dos investidores.
Nos próximos dias, o foco estará nos dados de emprego nos EUA e na inflação da Zona do Euro, que poderão influenciar as decisões de política monetária nas principais economias globais.
Encerramos o Mercados em Foco edição 01/10/2024. Desejando a todos um bom dia e bons negócios.