Mercados em Foco edição 26/09/2024

No “Mercados em Foco” de hoje, trazemos um resumo das últimas notícias e insights que impactaram os mercados globais e brasileiro. O IPCA-15 de setembro trouxe um alívio inesperado para o cenário econômico brasileiro. Registrando alta de apenas 0,13%, a prévia da inflação ficou muito abaixo das expectativas do mercado, que esperava um avanço de 0,28%. Essa desaceleração é significativa, refletindo uma mudança de dinâmica inflacionária, com impactos positivos nos mercados e nas expectativas para a política monetária. No acumulado de 12 meses, a inflação desacelerou de 4,35% para 4,12%, evidenciando um quadro inflacionário mais controlado. Mercados em Foco edição 26/09/2024.

Composição Qualitativa: Melhor que o Esperado

Além do índice geral abaixo das expectativas, a composição qualitativa do IPCA-15 também trouxe boas notícias. Quando analisamos as medidas subjacentes, ou seja, aquelas que desconsideram itens voláteis como alimentos e energia, observamos uma melhora significativa. A média anualizada dessas medidas nos últimos três meses mostrou sinais claros de desaceleração, mesmo permanecendo em níveis relativamente elevados.

Esses sinais positivos na margem, embora encorajadores, ainda não são suficientes para afastar as preocupações do Banco Central em relação às expectativas futuras de inflação. A autoridade monetária, ao observar o comportamento da inflação corrente, tende a manter uma postura cautelosa, pois as expectativas de inflação de longo prazo continuam sob pressão, especialmente em um ambiente de incertezas climáticas e riscos externos.

Impactos Climáticos: Alerta para o Preço dos Alimentos e Energia

Apesar da boa notícia no front inflacionário, o cenário climático continua sendo uma preocupação relevante. O Brasil enfrenta a possibilidade de um prolongado período de seca, o que pode afetar diretamente a oferta de energia e os preços dos alimentos. A falta de chuvas suficientes para abastecer as usinas hidrelétricas pode resultar na manutenção das bandeiras tarifárias vermelhas, pressionando os custos da energia elétrica.

Os preços dos alimentos, por sua vez, também estão em risco, especialmente se as condições climáticas adversas persistirem. Isso pode resultar em pressões inflacionárias adicionais nos próximos meses, o que justificaria a postura vigilante do Banco Central em relação à política monetária. Mesmo com a surpresa positiva do IPCA-15 de setembro, as projeções de inflação para o ano permanecem em torno de 4,4%, embora o viés tenha passado de autista para baixista.

Contas Externas Desapontam: Déficit Surpreendente em Agosto

Enquanto o IPCA-15 trouxe alívio, as contas externas do Brasil em agosto apresentaram um quadro preocupante. O déficit nas transações correntes superou US$ 6,5 bilhões, o pior resultado para o mês desde 2014. Esse resultado veio muito acima das expectativas do mercado e acendeu um alerta sobre a saúde das contas externas do país.

Apesar do saldo comercial positivo de mais de US$ 4 bilhões, o resultado das transações correntes revela uma deterioração no equilíbrio externo do Brasil. O investimento estrangeiro direto, embora forte, não foi suficiente para compensar o déficit. Esse cenário pode levar a uma maior cautela por parte dos investidores, especialmente em um ambiente global de aversão ao risco.

Reação do Mercado: Estabilidade nos Juros e Pressão sobre o Real

A reação do mercado ao IPCA-15 foi mista. Os DIs, contratos futuros de juros, fecharam próximos à estabilidade ao longo da curva, com uma tendência de queda nos prazos mais curtos. Isso reflete uma percepção de que, embora a inflação tenha surpreendido positivamente, o Banco Central ainda manterá uma postura cautelosa, especialmente diante das incertezas futuras.

O real, por sua vez, sofreu uma leve desvalorização frente ao dólar, principalmente devido à correção da forte alta observada no pregão anterior. A valorização do dólar global, impulsionada pela alta nos juros dos Estados Unidos, também contribuiu para a pressão sobre a moeda brasileira. Apesar dessa desvalorização, o real continua relativamente estável, graças ao fluxo de investimentos estrangeiros no país.

Na bolsa, o Ibovespa também seguiu uma tendência negativa, apesar da valorização das ações da Vale e da Petrobras. O índice refletiu a cautela do mercado com as contas externas e a perspectiva de desaceleração do crescimento econômico global.

Cenário Internacional: Alta da Meta e Reação Mista nos EUA

Nos Estados Unidos, a agenda econômica foi modesta, mas o foco do mercado esteve nas falas de membros do Federal Reserve e no lançamento de novos produtos de realidade aumentada e inteligência artificial pela Meta. Esse lançamento impulsionou as ações da empresa, levando a um novo recorde de fechamento. Com isso, o índice Nasdaq fechou em leve alta, enquanto o Dow Jones e o S&P 500 recuaram após uma sequência de recordes.

No mercado de juros, os títulos do Tesouro norte-americano tiveram alta generalizada ao longo da curva, refletindo a expectativa de um aperto monetário mais prolongado pelo Federal Reserve. Isso contribuiu para a valorização global do dólar, enquanto o ouro renovou seu recorde de fechamento pela quinta sessão consecutiva, evidenciando a busca por ativos de proteção.

Expectativas para os Próximos Dias: PIB dos EUA e Política Monetária no Brasil

Os próximos dias prometem ser movimentados tanto no Brasil quanto no exterior. Nos Estados Unidos, o destaque será a última leitura do PIB do segundo trimestre, um dado que geralmente já vem pré-definido, mas que ainda pode trazer ajustes importantes para as expectativas do mercado. Mais relevante, no entanto, será a fala do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, após a recente decisão de reduzir os juros em 50 pontos-base.

No Brasil, o Banco Central apresentará seu Relatório Trimestral de Inflação (RTI), um documento fundamental para o entendimento da trajetória futura da política monetária. O RTI deve trazer uma comunicação firme por parte do Banco Central, especialmente em relação às expectativas inflacionárias e à avaliação do hiato do produto. As projeções para o IPCA de 2026, que será o horizonte relevante a partir de agora, serão observadas de perto pelo mercado.

Dependendo das projeções do Banco Central e da evolução dos dados econômicos, o mercado pode ajustar suas apostas em relação ao ciclo de cortes de juros. Um cenário de cortes mais agressivos, acima de 200 pontos-base, ou uma postura mais moderada, será definido nos próximos meses, à medida que novos dados econômicos forem divulgados.

Considerações

A surpresa positiva do IPCA-15 de setembro trouxe alívio para o cenário inflacionário, mas as incertezas climáticas e o déficit nas contas externas mantêm o mercado em alerta. O Banco Central deverá continuar com uma postura cautelosa, avaliando cuidadosamente os próximos indicadores antes de tomar decisões mais ousadas em relação à política monetária. No cenário internacional, a trajetória dos juros nos Estados Unidos e os desdobramentos econômicos globais continuarão a influenciar o desempenho do real e do Ibovespa.

Encerramos o Mercados em Foco edição 26/09/2024. Desejando a todos um bom dia e bons negócios.

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