No “Mercados em Foco” de hoje, trazemos um resumo das últimas notícias e insights que impactaram os mercados globais e brasileiro. A semana começou com um cenário econômico global em alerta, refletindo as crescentes preocupações de que a economia dos Estados Unidos pode estar à beira de uma recessão. Esse temor foi evidenciado por um rali nos Treasuries, indicando que os mercados esperam que o Federal Reserve (Fed) possa ser forçado a começar a cortar as taxas de juros em breve para evitar um colapso mais profundo. Essa perspectiva de aversão ao risco impactou significativamente as bolsas de valores ao redor do mundo. Acontecendo quedas históricas em índices importantes e movimentos expressivos em moedas e juros. Mercados em Foco edição 06/08/2024.
Impactos nos Mercados Internacionais
Os sinais de recessão nos Estados Unidos provocaram uma resposta imediata nos mercados financeiros globais. O Dow Jones e o S&P 500, dois dos principais índices acionários norte-americanos, registraram a maior queda desde setembro de 2022. No Japão, o impacto foi ainda mais drástico. A Bolsa de Tóquio sofreu um circuit break após uma queda de mais de 12%, a maior desde o famoso “Black Monday” de 1987. Esse movimento apagou 25% da valorização que havia sido acumulada recentemente, eliminando os ganhos dos investidores ao longo do ano.
A venda generalizada de ativos de risco refletiu o crescente pessimismo em relação à saúde da economia global. O mercado de Treasuries, tradicionalmente considerado um porto seguro, viu os juros futuros de dois anos caírem para níveis abaixo dos juros de 10 anos, uma situação que normalmente antecede recessões. Esse movimento sugere que os investidores acreditam que o Fed pode ser obrigado a reduzir as taxas de juros de forma emergencial para mitigar os efeitos de uma desaceleração econômica mais severa.
Reflexos no Brasil: Moeda e Taxa de Juros
No Brasil, a repercussão dessas turbulências globais foi imediata. O real, nossa moeda, abriu a semana com uma desvalorização expressiva de quase 3% em relação ao dólar, atingindo uma máxima de R$ 5,86. Esse movimento acentuado reforçou a percepção de que o Brasil não está imune às forças globais e trouxe à tona discussões sobre uma possível redução emergencial dos juros domésticos.
A curva de juros futuros, particularmente os contratos de dois anos, que são mais sensíveis às expectativas de política monetária, recuou para níveis mínimos, abaixo até dos contratos de 10 anos. Essa dinâmica reflete uma mudança nas expectativas de política monetária, com o mercado começando a precificar um cenário de cortes nos juros devido à deterioração das condições financeiras globais.
A onda de liquidação de ativos de risco e a consequente alta do dólar representam um aperto exógeno nas condições financeiras, aumentando o custo do capital e restringindo a liquidez. No entanto, a próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) está marcada apenas para o dia 18 de setembro, o que deixa espaço para muitas incertezas até lá.
Dados Econômicos Recentes:
Estados Unidos e Zona do Euro
No meio desse cenário conturbado, a semana também trouxe alguns dados econômicos importantes. Nos Estados Unidos, o Índice ISM de Serviços, divulgado ontem, apresentou um desempenho melhor do que o esperado. Impulsionado por uma recuperação no emprego, o índice registrou sua primeira expansão desde o início do ano, crescendo no ritmo mais rápido desde setembro. Apesar disso, é importante contextualizar que a base de comparação é fraca, o que relativiza o impacto positivo desse dado.
Na Europa, a situação foi mais desafiadora. O PMI composto da Zona do Euro recuou de 50,9 para 50,2 em julho, refletindo uma desaceleração na atividade econômica. A inflação ao produtor na região também veio abaixo das expectativas, registrando uma alta anual de 3,2%, o que reforça a percepção de fraqueza econômica. Esses dados contrastam com a narrativa que vinha se consolidando sobre uma recuperação mais robusta na região.
Instabilidades na moeda Brasileira
Já no Brasil, a economia tem se mostrado mais resiliente. O PMI de Serviços subiu de 54,8 para 56,4, impulsionando o PMI composto a 56 pontos em julho. Esses números indicam que a atividade econômica no Brasil continua forte, ou seja, descolando-se da tendência de desaceleração observada em outras partes do mundo. Além disso, os ativos brasileiros, embora tenham sofrido com a volatilidade global, mostraram uma performance relativamente melhor do que seus pares emergentes.
O real, por exemplo, foi menos impactado pelos desmontes de carry trade envolvendo o iene japonês e fechou estável em relação ao dólar, a R$ 5,74. Esse alívio na pressão cambial contribuiu para uma queda nas taxas de juros de médio e longo prazo no mercado doméstico, embora os juros de curto prazo tenham subido. O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, caiu 0,5%, um resultado considerado positivo diante do contexto de incerteza global que marcou o início do dia.
Perspectivas e Agenda da Semana
Olhando para a agenda da semana, dois pontos merecem destaque. O primeiro é a ata da última reunião do Copom, que será divulgada hoje. Essa ata pode trazer mais detalhes sobre a visão do Banco Central em relação à política monetária em um contexto de desaceleração global. No entanto, há um receio de que o documento já esteja desatualizado, dado que a narrativa de uma desaceleração mais forte nos Estados Unidos ganhou força logo após a reunião.
O comunicado do Copom destacou a desaceleração global como um risco baixista para a inflação no Brasil. Ele também apontou que uma recessão nos Estados Unidos poderia pressionar a inflação por meio da alta do dólar, ou seja, queda nos preços das commodities, o que prejudicaria as exportações brasileiras. Esse cenário é incerto, mas a perspectiva de uma recessão enfraquece a tese de uma nova alta de juros no Brasil. Ao mesmo tempo, uma queda nos juros norte-americanos poderia beneficiar o Brasil, aumentando a liquidez e tornando os juros domésticos mais atrativos.
O segundo ponto de destaque é político. Até hoje, a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, deve anunciar quem será seu vice na próxima eleição. De acordo com a Reuters, as duas principais opções são o governador da Pensilvânia, Josh Shapiro, e o governador de Minnesota, Tim Walz. Ambos os estados são considerados cruciais para conquistar votos nas eleições presidenciais, o que torna essa escolha particularmente importante.
Considerações: Um Cenário de Incertezas e Oportunidades
A semana começou com fortes sinais de que a economia dos Estados Unidos pode estar entrando em recessão. Isso desencadeou uma série de movimentos nos mercados globais. A aversão ao risco derrubou bolsas de valores, impulsionou a compra de Treasuries e gerou volatilidade em moedas e taxas de juros ao redor do mundo. No Brasil, o impacto afetou principalmente o mercado de câmbio e as expectativas de política monetária. O real se desvalorizou e a curva de juros futuros refletiu incertezas sobre os próximos passos do Banco Central. Apesar do cenário global desafiador, a economia brasileira tem mostrado resiliência, com indicadores de atividade econômica surpreendendo positivamente. No entanto, a incerteza global continua a ser um fator de risco, especialmente em relação à evolução da política monetária nos Estados Unidos e seus impactos nos mercados emergentes.
As atenções se voltam para a ata do Copom e para as escolhas políticas nos Estados Unidos. Estes dados podem influenciar o rumo dos mercados nas próximas semanas. Navegar por esse ambiente de incerteza exigirá dos investidores uma dose extra de cautela e atenção aos sinais que podem indicar novos rumos para a economia global.
Estar preparado para diferentes cenários será fundamental para aproveitar as oportunidades que podem surgir em meio à volatilidade.
Encerramos o Mercados em Foco edição 06/08/2024. Desejando a todos um bom dia e bons negócios.